Wilton Santana

Crônicas publicadas no projeto.

Dourado, a cor do pecado

Ela acordou naquele dia com a certeza de que encontraria alguém que a merecesse. Vestiu-se com um longo dourado, que a deixou exuberante. Queria alguém que pudesse carregá-la, amorosamente, para sempre. Ele sonhava com alguém como ela, ao seu modo, desde criança, no início timidamente, mas na vida que segue, sobretudo nos últimos quatro anos, ardorosamente. Esteve na companhia de algumas rainhas, uma delas bronzeada, mas nada que o fizesse

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Dani-se!

Quando você foi bater o escanteio e o cara te jogou uma banana, pensei: “mais um caso emblemático de preconceito racial !” De fato, foi! Mas você, porque bem resolvido, porque arretado, porque baiano, porque lúdico, saboreou a fruta. Porra, sério? Você cagou para o eurocentrismo, para a ideia de subjugação, noves fora. Cara, que amor próprio! É como se você dissesse: acordem idiotas, as relações mudaram. Vocês não mandam

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Marta, a curadora

O sábado corria mais reflexivo do que de costume. Véspera de cumpleãnos é uma imersão existencial para mim. Vou tão fundo que preciso de dias para retornar. Alguma indicação de livro? Me envie. Terapia eu já faço! Aliás, logoterapia. Se me sugerir ir à igreja, te silencio. Eu reúno a minha igreja, de preferência acompanhada de petiscos e cerveja – a minha igreja é primitiva. Ouço um toque vindo do

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Cara de cenoura

Nenhum jogo, hoje, me encanta mais do que o tênis, Coelho! – Tênis, irmão! E o futebol? – Prefiro o tênis. – Por quê? – Porque é o jogador e o jogo. Não há a figura do treinador interferindo. Coelho fez uma cara de cenoura. – E o adversário? – Quando disse jogo, isso inclui o adversário, né? – Mas, qual é o problema de haver o treinador? – Coelho,

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Indomáveis

Marta e Formiga adentraram a sala para a entrevista após a desclassificação. Cabeças erguidas. Estavam com aquele semblante de desfecho que dói. Cara de quem tem saudade do que não se viveu o que se desejou tão intensa e verdadeiramente. Sentaram-se. Formiga abriu a garrafinha de água à sua frente, pegou um copo e serviu Marta, que lhe agradeceu. A assessora de imprensa abriu a coletiva com Augusto Garcia, da

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Diferenças culturais

Ela foi convidada para o badminton aos 23 anos. Fazia outro esporte. Gostou e permaneceu. A sua adversária iniciou-se aos 7, pois era um esporte popular na escola. Ela se desenvolveu muito. E chegou lá! Fez a sua estreia nos Jogos Olímpicos, aos 33, com 10 anos de prática. A gringa também estreou trintona, mas tinha 23 anos de prática. O jogo iniciou. Chegou a estar 13×1. Terminou 21×9. No

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Gritos olímpicos

Ela andava à base de remédio fazia muito tempo. Pais e treinadores sabiam. A junta médica também, é claro. Havia mais duas ou três meninas na mesma situação crítica. O presidente da confederação escondia o caso dos patrocinadores. “Não pode vazar”, dizia, afinal, “os Jogos Olímpicos se aproximam”. Naquela madrugada ela soltou um grito. E mais outro. Os pais acordaram assustados e moveram-se para o quarto da menina, que já

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Bravo, “brabo”!

Éramos uns 30 moleques sobre aquele tatame. Pesos, alturas, idades e estilos diferentes. Faixas branca, cinza, azul, amarela formavam a maioria. Tinha uma meia dúzia das outras, como a laranja e a verde. Uma roxa. E uma preta, do aluno que auxiliava o sensei. Mestre Okano falava pouco e baixo. Raramente sorria. Quando o fazia, não emitia nenhum som. Eu sabia que sorria porque via os seus dentes. Para ensinar,

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Prancha com rodinhas

Mal o almoço assentara, o pai o chamou e disse que compraria a tal “prancha com rodinhas”, porque não aguentava mais aquele choramingo diário. A mãe, que passava pela sala, arregalou os olhos, mas não interveio. Deu tempo de ouvir que os treinos de futebol continuariam, porque poderia lhe dar profissão e dinheiro. Quanto aos estudos, nada disse. O garoto sentiu o coração disparar. Tinha a impressão de que aguardava

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