Carlos Eduardo Marcos Bonfá

Crônicas publicadas no projeto.

O CORPO PARALÍMPICO E A ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA

Na crônica “Os Jogos, os Corpos”, supus que as Paralimpíadas pudessem ser o espaço de corpos que talvez criassem linhas de fuga no tocante ao bipoder olimpiano. Mas essas linhas de fuga são produtos de uma tensão. O bipoder, com seu crescente apelo ao estilo de vida “ativo” e saudável, também atinge a órbita da vida das pessoas doentes ou deficientes, disseminando estratégias que visam à configuração do discurso de

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xerequeerização

Apesar da biopolítica atuante em competições esportivas de grandes proporções com atletas de alto rendimento, compactuada com narrativas heroicas heteronormativas que geralmente assumem o podium do imaginário atlético, há uma quantidade bastante considerável de competidores LGBTQIA+ nas Olímpiadas de Verão de Tóquio, somando, segundo levantamento do site OutSports, pelo menos 168 pessoas, tornando os jogos de 2020 mais diversos, batendo record, sendo que, por exemplo, os de Londres e os

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O SKATISMO COMO EXPERIÊNCIA DO COMUM

Em minha crônica “Gentes do Mundo”, desejei que a utopia conciliadora totalizante (não totalitária) das Olimpíadas ao menos idealizasse criticamente o esboço do comum, dos comuns. É possível que o skatismo seja esse esboço ou tenha se apresentado, ao menos, como esse esboço. Um dos princípios de atuação e vivência skater é a camaradagem. Aqui a noção de camarada não tem a tonalidade político-ativista própria que a arqueologia dessa figura

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MÍNIMA PSICANÁLISE OLÍMPICA

Com a dita polarização de opiniões (geralmente isentas da preocupação com alguma argumentação cerrada) no espaço público brasileiro, não poderia ser diferente no caso da participação de nossos atletas olímpicos, que sempre sofreram com o fato de terem de enfrentar os riscos radicais de serem glorificados ou amaldiçoados do dia para a noite perante uma vitória ou uma derrota. Em minha crônica “Simone Biles e o Cansaço”, usei a concepção

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BUFÔNICO MISTÉRIO

Achille Mbembe já usou o termo “racismo viral” ao invés de racismo estrutural. Essa noção de estrutural, que alguns afirmam ter raiz marxista, mas sem nunca terem encontrado exatamente onde, ou a terem claramente identificado em obras do revolucionário da dialética, talvez esteja, de qualquer modo, “obsoleta”, ou melhor, inadequada. Somos pós-estruturalistas, somos virais, viralizadores e viralizados pelas redes e pelos vírus biopoliticosociais que nos perseguem e que perseguimos. Assim

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AS YARAS, O DEVIR-ÍNDIA, O DEVIR-SEREIA

Durante o período olímpico, com a chama dos deuses bafejando o espírito esportivo, o Brasil estava e está em chamas que dividem os espíritos, as classes, desafiam paradigmas e matam (registros, arquivos e pessoas). Na Avenida Santo Amaro, na cidade de São Paulo, a estátua de Manuel da Borba Gato foi chamuscada em uma tentativa de incêndio pelo movimento Revolução Periférica. Borba Gato foi Juiz ordinário da vila de Sabará,

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SIMONE BILES E O CANSAÇO

Apesar de apontada como favorita à medalha de ouro, a ginasta norte-americana Simone Biles decidiu se retirar, após uma avaliação médica adicional, do final da competição individual em nome de seu bem-estar emocional. Ela já havia se retirado da disputa por equipes após uma grande falha no salto. A pressão que sofre por ser considerada a maior estrela olímpica dessa edição a afetou profundamente. Vista de fora, a atitude pode

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A VIDA MARÍTIMA

De todas as sensações que o mar me provocou, a de evasão sempre preponderou. De evasão algo eufórica e algo disfórica, melancólica, um movimento imaginado e mesmo até desejado que amplia os limites do real e da fantasia. Essa evasão talvez venha de um aspecto simbólico múltiplo: o mar simboliza a geração da vida, mas por meio da indefinição da forma e da mutabilidade. Informidade e metamorfose não seriam somente

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A FADA DAS RUAS

Na cidade do interior de São Paulo na qual resido, chamada Socorro, sempre houve bastantes skaters. Várias das minhas amizades foram desse meio, que já deixou de ser marginalizado, tanto que foi incluso nas Olimpíadas de Tóquio (com Kelvin Hoefler conquistando a primeira medalha brasileira, prateada, de skate street), juntamente com o karatê e com o surf. Hoje dá para encontrar criança cool, descolada, com cabelo pintado e boné manobrando

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#olimpiadasparatodos

Nessa pandemia, o número de sem-tetos aumentou, principalmente em países periféricos. Mas o fato que chocou o mundo foi o surgimento de outra “classe” social (me perdoe, Marx): a dos sem-Olimpíadas. O exemplo já mais famoso é o de Yasmin Brunenê, mulher de Gabriel Medinha, que sem a amada ao lado terá menos forças para competir. Por causa dos protocolos de segurança contra a Covid-19, o nefasto Comitê Olímpico Brasileiro

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