Quando você foi bater o escanteio e o cara te jogou uma banana, pensei: “mais um caso emblemático de preconceito racial !” De fato, foi! Mas você, porque bem resolvido, porque arretado, porque baiano, porque lúdico, saboreou a fruta. Porra, sério? Você cagou para o eurocentrismo, para a ideia de subjugação, noves fora. Cara, que amor próprio! É como se você dissesse: acordem idiotas, as relações mudaram. Vocês não mandam mais nessa porra! O campinho tem um dono coletivo. Não leram Umberto Eco? 1968 lhes diz algo?
Aí você veio pra cá e o Diniz, o controverso Fernando Diniz, te deu a “10”, te meteu saindo no centro, como meio-campista, com a bola, e sentenciou: dependemos de você! E você, meu caro, no meio daquele caos, no meu modo de ver, deu conta! Quase deu, hein? 7 porra pontos na frente! De sua parte, aplicou a técnica, a inteligência, mas, sobretudo, a brasilidade, características de quem, ainda, come inhame no breakfest para ratificar o seu talento em resolver problemas. Tua garra, também! Gérson que o diga!
E não é que você, que carrega mais títulos do que idade, teve de se defender das críticas tupiniquins de que estava ultrapassado! Teve de lembrar aos jornaleiros locais, bando de preguiçosos, de que, lá fora, ninguém te questionava! De que você detinha uma miríade de conquistas, mais extensa de que o Rio Amazonas e o Maracanã! Maior do que as “fichas corridas” de Lionel, Cristiano, Pelé e Johan, o Cruyff14? Maior do que os anjos caídos! O que dirá, então, do cai-cai do careleo do Neymar e seus capachos Rede Globo!
Vida que segue, não é que o Jardine, outro extraterrestre, como o PC de Oliveira, te chamou para capitanear um bando de “adolescentes” rumo ao ouro olímpico? Sim, porque, vide curriculum, quem naquela seleção pode sentar na janela?
E você foi lá, com todo o seu vigor, inteligência, simpatia, técnica, empatia, liderar a rapaziada! Meteu a braceleira no braço esquerdo, bateu pênalti, fez passes precisos, atuou como armador e extremo, cicerone, articulador e curador para, enfim, levantar mais um caneco. Uma taça amadora-profissional?! Uma taça diante daqueles meninos que o assistiram no Camp Nou, anos a fio, como tietes, pousando para fotos e pedindo autógrafos?!
Dani Alves, eu te convidaria para jantar em casa, te serviria uma cerveja trincado, te apresentaria a minha coleção de livros da Clarice e, até, a minha filha, sem reservas, se trouxesse a Rosa dos Ventos, minha cachaça predileta.
Você, Dani, é da família. E ficou mais bonito com esse título olímpico. E sensual também. E livre também. E transcendental. E imortal.
O que falta? O que mais te espera? Um campeonato mundial, uma nova convocação, mais um título, um vinho tinto, uma namorada celebridade, um poente, uma estátua, o requalque, um documentário, um deslize, sair do armário, uma barriga, o ostracismo, a vida de treinador, nova polêmica, uma foto com o Caetano?
Onde você estiver será, por tua presença, um lugar inquietante. A medida do imensurável. O locus indefinido, tipo átomo. A vida mambembe de artista. O solo cotetivo. A unidade plural. A arte científica. O artífice operário.
Thank you very much! Gracias! Gracie! Obrigado
Por último: você não foi melhor do que o Leandro, porque ninguém foi. Nem melhor do que o Carlos Alberto, o capita, porque o Carlos Alberto disse que o Leandro foi o melhor! Mas você esteve em todas as conquistas, aqui e ali, na Espanha, na Itália, na França, no Brasil, na pelada de rua, do Oiapoque ao Chuí, onde tiver uma foto que caiba 11 jogadores campeões.