A heroica desistência de Simone Biles

“É uma bosta quando você está lutando com sua própria cabeça. Você quer fazer isso por si mesma, mas ainda fica muito preocupada com o que todo mundo vai dizer […] Eu queria que esses Jogos Olímpicos fossem por mim, mas eu sinto que ainda estou fazendo pelos outros.”

Simone Biles é uma das maiores ginastas da história e, em tese, viveria seu auge em Tóquio — se é que é possível subir ainda mais alto no Olimpo dos atletas do que ela já subiu. Porém, aos 24 anos, a maturidade de Biles parece colocar em dúvida o sentido de seus voos acrobáticos.

A maior ginasta do mundo na atualidade, desistiu de participar da final olímpica por equipes e colocou em dúvida sua presença nas finais individuais. Fez isso depois de errar um salto e não se sentir boa o suficiente para corresponder à expectativa dos outros.

Biles já provou do que é capaz: são quatro ouros olímpicos, sem contar os ouros em mundiais, 19 ao todo. É o orgulho não só de uma nação, mas de todos os homens sensíveis ao esporte. Até o abuso sexual de um ex-médico da equipe de ginástica norte-americana Biles suportou para se tornar a lenda que é aos olhos do mundo. Mas o que se tornou aos seus próprios olhos?

Todo o heroísmo pressupõe o sacrifício do indivíduo pelo coletivo, o que, porém, só é possível e saudável quando a jornada encontra eco em nossa alma e nos permite renascer, renovados e recompensados de sentido, para seguirmos, de fato, vivos. Se não for assim, não é sacrifício (sacrum-ficium: trabalho sagrado), é autoviolência, perda de significado… morte, sem ressurreição.

“Eu senti que seria melhor que eu me afastasse [da prova por equipes]… Eu não queria arriscar uma medalha do time, porque elas trabalharam duro demais para eu estragar tudo.”

A desistência de Biles é muito mais do que a revelação de distúrbios emocionais, é mais um sacrifício dessa jovem que, aos poucos, aprende a ser mais do que apenas uma das maiores ginastas de todos os tempos. “Preciso me concentrar no meu bem-estar, há vida além da ginástica.”

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