Leitura labial

A seleção feminina de vôlei do Brasil entrou na Arena de Ariake, na capital do Japão, para enfrentar a seleção do ROC. Quem está acompanhando as Olimpíadas de Tóquio provavelmente já se deparou com essa sigla nada familiar. Essa abreviação designa o Russian Olympic Committee (Comitê Olímpico Russo em inglês).
(Cabe aqui um breve parênteses: em 2019, a Agência Mundial Antidoping (WADA) baniu a Rússia de todos os esportes internacionais por quatro anos, depois que foi descoberto que os dados fornecidos pela Agência Antidopagem Russa foram manipulados pelas autoridades daquele país com o objetivo de proteger os atletas envolvidos em seu esquema de doping patrocinado pelo Estado. Logo, entraram com um recurso contra a decisão. Então, ficou estabelecido que em vez de banir o país das competições esportivas, a decisão permitiu que a Rússia participasse das Olimpíadas e de outros eventos internacionais, mas por um período de dois anos, não podendo usar nome, bandeira ou hino russo. Só permitiram que os uniformes das equipes pudessem exibir as cores da bandeira. Apenas agora, em fevereiro de 2021, foi anunciado que a Rússia competiria em Tóquio sob a sigla “ROC”. A nação seria representada pela bandeira do Comitê Olímpico Russo e não poderiam tocar o hino do país, que foi substituído por um fragmento do Concerto para Piano Nº 1 de Piotr Tchaikovski, o que é muito mais legal, convenhamos.)
Voltemos ao jogo: as belas jogadoras do ROC ganharam o primeiro set, fácil. Então, o competente técnico brasileiro José Roberto Guimarães colocou em quadra uma atleta reserva, Rosamaria, com seu par de olhos verdes, seu metro e oitenta e cinco de beleza e sua energia contagiante, que logo ofuscaram as russas e encantaram o mundo.
Conseguimos equilibrar a partida, que parecia fácil para as vermelhas branquelas. Ali pelas tantas, Rosamaria deu uma cortada para a quadra adversária, com a bola atingindo em cheio o rosto bonitinho de uma das meninas do ROC. Em situações assim, nos jogos de voleibol, o(a) atleta que fez o ataque desculpa-se com a vítima. Como o jogo estava pau a pau e as russas provocando as brasileiras (e a todos nós vidrados na televisão) com gritinhos histéricos, assim que deu a porrada, Rosamaria virou-se de costas para a quadra adversária e foi comemorar com as companheiras de equipe, mandando um sonoro vaitomanocu labial.
Parece que as russas escutaram. Viramos o jogo e ganhamos por três a um. Isso todo planeta já sabe.

Foto Getty Images

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