Em primeiro lugar os outros, depois ele, o campeão

A 100ª medalha de ouro do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos veio com o recorde mundial no atletismo, nos 1.500 metros (classe T11, cegos). Disparado.
O autor do feito histórico, o atleta Yeltsin Francisco Ortega Jacques, nasceu com baixa visão (0,5%), em Campo Grande (MS), em 1991. Todo mundo viu pela televisão ele e seu inseparável atleta-guia Carlos Antônio dos Santos, o Bira, faturarem esse cobiçado ouro.
Nosso Yeltsin conheceu o atletismo ajudando um amigo, totalmente cego, a correr. Então, começou a treinar junto com ele para competir e iniciou sua carreira nas Paralimpíadas Escolares, do Comitê Paralímpico Brasileiro.
(Promovida anualmente desde 2007, as Paralimpíadas Escolares é o maior evento para crianças com deficiência em idade escolar do planeta. São organizadas com a finalidade de estimular a participação dos estudantes com deficiência na prática de atividades esportivas em todas as escolas do território nacional. Nossos grandes campeões paralímpicos saem de lá. Um exemplo a ser seguido pelo Comitê Olímpico Brasileiro.)
A mídia não se cansou de noticiar que o nome do nosso corredor é uma homenagem do pai a Boris Iéltsin, o primeiro presidente da Rússia depois do fim da União Soviética.
Pouca gente sabe que nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019, Yeltsin e seu então atleta-guia Rafael Santeramo eram favoritos ao ouro e já estavam quase terminando a prova em primeiro lugar, quando o auxiliar começou a passar mal. Yeltsin precisou diminuir o ritmo para ajudar o parceiro, deixando escapar o ouro e a prata. Foram capengando até ele sentir seu guia cair logo após cruzarem a linha de chegada em terceiro lugar – nem sabia que havia garantido o bronze. Dois médicos entraram na pista e colocaram o atleta-guia em uma cadeira de rodas e o levaram dali. Yeltsin, perdido no meio da pista, sem poder comemorar pelo menos o Bronze, caminhou sozinho em direção ao vestiário. Sem ninguém para guiá-lo.
Dias antes, nosso fundista Yeltsin Jacques já havia beliscado o ouro nos 5.000 metros na mesma da classe T11. Fácil
Esse é o cara.

Foto: Wander Roberto/CPB

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