Sou carioca, filho de mineiros. Vivo no Rio de Janeiro desde que nasci e só troquei a beira-mar pela serra, há 4 anos. Mas tem um sotaque gostoso e que eu reconheço nas primeiras palavras, que me recorda a infância, a adolescência e uma boa parte da juventude. Primeiro foi a cozinheira da família, baiana arretada, que comia pimenta malagueta direto da planta. Minha referência, conselheira, carinhosa, protetora. Depois o amigo cearense, que me ensinou a falar cantando como ele ali por volta dos quinze anos. Finalmente, meu primeiro e querido parceiro de trabalho, um paraibano de sorriso largo e pavio curto.
Pois não tem me passado despercebido, ao longo dos Jogos Olímpicos de Paris, esse sotaque tão musical e carregado de lembranças afetuosas. Ele tem subido ao pódio, tem dado entrevistas algumas vezes empolgadas, outras vezes apreensivas, mas sempre deixando claro para quem quiser entender de onde vem a força maior do Brasil.
Vejo o Isaquias remar com vigor, carregando com ele a sua Bahia. Vejo a Duda, depois de arrasar no vôlei na praia artificial sob a Torre Eiffel, esparramar seu sotaque sergipano pela areia. E, finalmente, vejo Netinho derrubar o seu adversário e explodir de alegria e de orgulho de sua Paraíba.
Muitos outros atletas brasileiros falam com um delicioso sotaque que soa como música. É um forró falado que nos faz pensar em quanto já devemos a esse povo lá de cima do mapa do Brasil.
Que sejam deles, em mais áreas além dos esportes olímpicos, cada vez mais pódios nacionais e mundiais. Eles merecem.