Entardecer de sexta-feira.
Termino o último compromisso. Ponho o vinho branco no gelo e ligo a TV. Meu coração aos saltos. Primeiro set, que alívio. O segundo aperta o meu peito de um jeito que acho que desta vez não escapo. Tie-break. Respiro. E elas estão lá pra me dizer: calma, vai ter jogo.
E teve. A coisa esquenta. O DJ entra em campo: “Imagine all the people living life in peace”. É só imaginar. Match Point. Ana Patrícia faz o bloqueio. A bola cai em areia adversária. Ela fica paralisada, em choque. Duda grita algo que eu traduzo: “acabou, ganhamos”. Suas lágrimas se derramam sobre a areia.
No chão da minha casa, não sei o que fazer. Pulo? Grito? Abro o vinho?
Explico: eu vi a última vez que o Brasil ganhou essa medalha. Vinte e oito anos. Eu vi. Uma vida inteira passa em alguns segundos. O sonho brilhando nos olhos da minha filha, ainda criança. Sua escolha por outros caminhos. Tão vitoriosos quanto essa medalha. O que importa isso agora? Eu ainda estou aqui. O coração disparado, mas estou. Estamos. Ela continua amando o vôlei assim como eu. E agora é minha neta que não larga a bola.
Corro pras redes sociais. Vibramos no grupo de WhatsApp da família que nos une apesar dos quilômetros que nos separam.
Já no Instagram e Facebook o que vejo é brochante. As pessoas falam do ouro “apesar do calção”.
Porra! do calção?
Por que mulheres precisam exibir corpos musculosos em lycra colante pra serem reconhecidas como atletas?
Não basta a performance?
Não basta a medalha de ouro numa Olimpíada?
BASTA!
Ana Patrícia e Duda são gigantes. Com lycra ou com calção. Do jeito que elas quiserem e se sentirem confortáveis.
Ah, meu vinho gelou. Festejemos, pois. Paris virou baile nesta sexta. Sextou!