Nesta quarta-feira, 24 de julho, sob o sol do verão europeu, é dada a largada para as competições de Paris 2024, apenas dois dias antes da abertura oficial dos Jogos Olímpicos que será a céu aberto, às margens do pitoresco rio Sena. A cidade fervilha emoções, a multidão que se enfileira nos aeroportos, as gentes que chegam por outros caminhos, toda uma leva de turistas movendo-se e movimentando a engrenagem da cidade em marcha olímpica, em contraste com o espírito de tranquilidade do rio Sena.
Uma Paris efervescente que é cartografada pelo vai-e-vem de transeuntes curiosos a palmilhar os rincões urbanos, lugares emblemáticos de uma Paris versátil, de inúmeras possibilidades, que nos presenteia sua história através de significativos lugares como Campos Elíseo, a Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Praça da Concórdia, a recentemente reconstruída Catedral de Notre Dame, os elegantes cafés parisinos, tantos lugares. Mas, sem sombra de dúvidas, seu protagonista-mor é o rio Sena e suas memórias que sustentam a cidade. Um rio que recebeu monumental operação de limpeza nos últimos anos e, agora, celebra seu vigor e sua sina de serpentear a cidade abraçando as árvores e as afortunadas casas que o rodeiam e exibindo seu corpo líquido, volumoso, que já não desprende o forte odor dos verões de outrora. Um rio que, em toda sua frescura esverdeada, sorri às 206 equipes recém-chegadas à cidade e que somam um total de 10.500 atletas.
Beber o Sena pelos olhos e vomitar a imagética Paris como fizeram Cézanne, Monet, Van Gogh e muitos outros artistas é mergulhar, não somente, no mistério da impermanência material e na energia profunda de suas águas, mas é ir além, é fotografar essas águas na sua beleza única, num momento ímpar de um acontecimento cotidiano e levá-las a seu máximo expoente de beleza. O Sena matiza a ‘Ville Lumière’, a Cidade Luz, com sua memória líquida que se impõe aos olhares curiosos que transitam pela cidade; olhares que já não serão mais os mesmos ao beber da pele reluzente das águas do Sena. Qual é a Paris que nos ficará tatuada na memória depois desses Jogos Olímpicos? Será a que se eterniza no vozerio de seus cafés, nos seus terraços lotados? Ou no sabor apurado de seus ‘croissants’ como uma verdadeira ‘madeleine’ de Proust encerrada num tempo perdido a acionar a memória-refúgio frente à inevitável passagem do tempo? Que Paris é essa que fica, mas que também é livre para tomar qualquer forma na mansidão dos sentimentos de quem a vive?
O rio Sena também assaltou o coração do argentino Júlio Cortázar e o fez plasmar suas pontes, seu bairro latino ou ainda a enigmática Notre Dame em sua literatura. A Paris de Cortázar, hoje o abraça e guarda seu corpo em seu ventre, no cemitério Montparnasse. A Paris de Victor Hugo, a que sobreviveu às chamas de 2019, e mantém de pé o maior símbolo parisiense, a catedral Notre Dame de arquitetura gótica e seu apaixonante corcunda Quasímodo, hoje está de portas abertas, assim como uma das mais antigas casas de Paris onde viveu o escritor Victor Hugo. O romancista Ernest Hemingway que viveu e apaixonou-se por Paris disse, certa vez, que se você tem a sorte de ter vivido Paris, na juventude, essa Paris será a sua companhia por toda vida, esteja ela onde quer que esteja. No entanto, me pergunto, e as pessoas, que como eu, nunca estiveram em Paris, como a eternizam? O certo é que conhecendo ou não essa Cidade Luz, todos temos uma Paris dos sonhos quando a viaja pela via das fotografias e cartografias deixadas por grandes nomes da literatura e da arte.
Não perca mais tempo, mergulhe na sua Paris e torçamos pelo ouro verde amarelo da nossa mátria amada Pindorama!