O que nos cativa no esporte é essa superação dos limites. Uma disputa interna contra o corpo e a mente. Além da diversão e da saúde que isso nos traz. Tem quem não goste. E tem que é viciado. O que ninguém pode negar é que esporte é uma coisa que faz parte da vida. Seja ele uma prática amadora ou profissional, um objeto de admiração ou repulsa.
O maior evento profissional para atletas, amantes e haters, são as olimpíadas. Evento tradicional, com origem na Grécia e responsável por reunir os melhores naquilo que fazem, de todo o mundo. É muita gente boa e gente muito boa. E isso vira um espetáculo, é uma diversão acompanhar aquelas pessoas fazendo coisas que somos incapazes de fazer, como dar duplos carpados ou correr na velocidade de um gol quadrado ou, sei lá, voar por cima de um corrimão de praça pública.
Tem quem acredite ser possível fazer aquelas performances, e os que adoram reclamar do desempenho dos atletas, julgando um atleta que ficou em sexto lugar. Sexto melhor do mundo, bicho. Dentre milhões de pessoas, a pessoa é a sexta melhor. E não ganhou medalha. Perdeu.
Em um mundo que valoriza os vencedores e nos divide em ganhadores e perdedores, somos induzidos a pensar que um sexto, ou décimo lugar, são para atletas ruins, que não se prepararam ou que são menores do que os que são o primeiro ou segundo colocados. Temos uma cultura de que perder é uma coisa ruim, quase imoral, um castigo, uma praga e, em tempos de teorias da prosperidade, um pecado.
Falta de mérito é o grito que escutamos das cadeiras numeradas, que gritam para um baixo clero sem nenhuma oportunidade de influenciar no jogo.
Nessa lógica, nas olimpíadas teremos milhares, milhões de perdedores. É assim o sistema. Como a vida. Quantas vagas para uma promoção? Quantos livros são os melhores do ano? Quantos aprovados em concursos e universidades? Quantos ganham e quantos perdem?
Sofremos derrotas o tempo todo. Viver é perder. Ganhar é exceção. Ganhar é um milagre, um momento, uma epifania, um sonho. E o esporte é um lugar pra aprender a lidar com essas derrotas. Pequenas derrotas se compararmos com as derrotas da vida. Perder faz parte. Essa talvez seja a maior das lições da disputa atlética. São regras mais ou menos objetivas.
Perder é duro, é chato, cobra maturidade, espírito esportivo, alguma leveza e coragem pra continuar. Vencer é preciso, perder não é preciso. Fernando Pessoa sacou isso. Se viver é perder, perder não é preciso.
O protocolo para vencer é muito preciso e lidar com uma vitória é fácil, você fica alegre, pois superou seus limites e deu tudo certo apesar dos infortúnios, agora, pra derrota não existe fórmula, o imponderável atua com criatividade e muito deboche, muitas vezes nem se entende como perdeu, mas perdeu, alguém tem que chorar para o outro rir. É terrível no momento e pra cada derrota e derrotado o gosto é amargo, passa um filme diferente em cada indivíduo. O choro é livre, tem gosto de sal e pesa uma tonelada.
O sucesso é fazer a mesma coisa com sucessão, se manter ativo, dar sequência, seguir no trilho, perseguir seus limites, enfrentar suas fraquezas.
Saber perder é o segredo para perder mais, perder melhor, ter o direito de seguir perdendo por mais tempo. É preciso ver beleza nos tombos, nos golpes sofridos e celebrar cada novo recomeço.
Perder não é preciso.