O tombo, o golpe e a luta: narrativas olímpicas

Rayssa Leal, vulgo fadinha, voa e encanta mais uma vez. Seu brilho deixa rastros na pista, um chão de estrelas nas descidas pelo corrimão. Uma garota mágica, faz a gente duvidar que o esporte é uma coisa dura, trabalhada, dolorida. Vendo Rayssa voar, parece fácil. E pra ela é, afinal ela é uma fada.

Com uma pressão grande, Rayssa apresentou sua versão menina, sua ternura e seus medos. Tombou, ficou triste, marejou seus olhos, e de todos que estavam assistindo sua brincadeira, parecia que não iria aprontar das suas, seu riso estava tímido, guardado, tristonho. Até que se recuperou, deu a volta por cima do corrimão e fez suas coisas inacreditáveis, fez parecer fácil aquelas manobras de nomes difíceis. E se divertiu. É bonito ver Rayssa feliz. Mesmo com seu tombo, ela voltou pra voar.

Outra batalha que é bonita de acompanhar é de Rafaela Silva no judô. Muita força, muita concentração e garra. Ela me lembra milhares de pessoas que sonham com uma vida melhor, com uma vida mais justa. Ela entra no tatame pra mudar sua vida e de todos que acompanham a luta, ela é um coletivo em cena, uma chama, uma instituição divina, uma luta que não acaba, dá gosto de ver seus movimentos, seu suor e sua ginga.

O povo francês sentiu essa energia, gritou seu nome com biquinho. Rafa fez de Paris um baile. E ela entregou tudo, até sua última luta. Fez de sua participação uma odisseia, brigou, passou por barcos, sereias, ciclopes e muita gente boa, em sua última batalha foram mais de 5 minutos de acréscimo e quando já não tinha mais de onde tirar forças, e parecia estar caminhando para uma gloriosa medalha, tomou um golpe e caiu de cara, foi triste ver a cena. Quebrar a cara é coisa que só quem arrisca sabe como dói. E por essa regra estúpida, que não permite quebrar a cara, ela foi eliminada. Saiu com a cabeça erguida e como uma grande corajosa, pronta pra dar a volta por cima.

Outra grande luta dos jogos, a maior luta dos jogos até aqui, foi do argelino Dris Messaoud Redouane. Uma luta que não aconteceu, uma luta histórica, política, maior que as olímpiadas, pois transcendeu o esporte. O lutador argelino e a Argélia, representaram quem luta contra as injustiças, contra a barbárie e pede pelo fim do genocídio na Palestina. Um argelino na França, uma bela imagem, fez em Paris a sua batalha de Argel, e encheu de esperança quem torce pelo fim das guerras sangrentas que tanto massacram e desonram essa olímpiada que é ser humano.

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