Acordei neste sábado e liguei a TV precisamente no 81º minuto da partida Brasil x Espanha, em Tóquio. Menos mal. E logo partimos para a prorrogação, quando Malcon disparou à frente feito um antílope negro e meteu o gol da vitória. Estranhamente, não ouvi foguetório nem torcedores ululando nas sacadas deste condomínio, mas os patriotas já podem ufanar-se da medalha de ouro, consolando-se do desemprego, do marasmo econômico, do preço do gás de cozinha, e do auxílio governamental que ajuda a pagar uma conta de luz, e olhe lá.
O caso é que ainda estou encantado com o combate entre o boxeador baiano Hebert Conceição e o bicampeão europeu, o ucraniano Oleksandr Khyzhniak. “Olek” veio pra cima desferindo uma saraivada de golpes — nenhum dos quais fez cócegas no baiano —, mas o lutador ganhou os dois primeiros rounds por pontos, devido ao “volume”. Só restava a Hebert a opção do nocaute: encarou a “trocação” e encaixou um catufe demolidor de esquerda na mandíbula do ucraniano, que desabou no ringue e, quando se reergueu, achou que ainda estava no páreo.
A crônica esportiva nos informa que o boxe brasileiro acaba de quebrar um jejum de 44 anos do ouro olímpico. Seja muito bem-vindo ao pódio, Hebert Conceição. Com esse animus verdadeiramente esportivo: “Não sou um nocauteador, sou mais estiloso, mas eu estava perdendo a luta”. Pois vale torcer para que o boxe mundial e brasileiro voltem de novo à cena, depois do predomínio desse mix sangrento chamado UFC ou MMA. Porque não posso considerar ‘esporte’ uma modalidade em que é permitido sentar no peito do oponente, estrangulá-lo ou esmagar seu nariz com cotoveladas.
Sempre achei que essa prática dava mau exemplo para as boas crianças — e incentivo para os mais pestinhas. Alguém dirá que o boxe também é violento, mas aí o coração fala mais alto: quando menino, tive um tio que foi boxeador amador, e que me ensinou a apreciar a nobre arte do pugilato, lá no tempo de Éder Jofre.
Agora, estou contando as horas para ver a boxeadora brasuca Bia Ferreira subir ao ringue na grande final em Tóquio. Derrubar adversárias é com ela mesma. Essa garota vale ouro, Brasil.
E aí, quando a festa acabar, voltaremos ao nosso esporte nacional de cada dia: dar murro em ponta de faca.
[07.08.2021]