Uma noite em Versailles.

No Palácio de Versailles Robespierre descansa na cama da rainha com Maria Antonieta, quando é surpreendido por um segurança do Palácio. O homem dá um grito e imediatamente aponta a arma para eles:
são iguaizinhos, vocês são atores? Atletas? Participaram das competições de hipismo das Olimpíadas? Não interessa, estão presos por invasão a domicílio.
Maria Antonieta é a primeira a falar:
o domicílio no caso é meu.
Robespierre fecha o livro que estava lendo:
e eu não estou aqui, você não está me vendo, se meus companheiros souberem disso, passarei a eternidade sendo criticado. Morri como herói e quero permanecer assim.

O segurança se assusta:
como assim morreu? Vocês são atores, muito bons atores mas já estou chamando ajuda pelo rádio, fala mexendo no bolso.

Você acha que os outros também nos verão, Ro- pergunta Maria Antonieta para o companheiro de cama.

provavelmente não, nem todo mundo é médium como ele. E abre os braços num gesto que beira um drama:
meus amigo, não quero que voce passe vergonha, não chame reforços, por favor. Pelo jeito, só você pode ver e ouvir a gente. Se não acredita que somos quem somos, atire e comprove que a bala não nos atingirá. Eu só vim olhar as olimpíadas, sou louco por cavalos, na vida fui um cavalo com muitas pessoas, inclusive com ela-virando-se para Maria Antonieta que vai às lágrimas:
não se culpe querido, você tinha razão, hoje eu sei, virei santa depois que perdi a cabeça e a perco pela segunda vez com você, no meu saudoso quarto.

O segurança que conhece muito bem a história da Revolução francesa diz com escárnio:
Maria Antonieta e Robespierre, pelo amor de Deus, isso é ficção, os dois eram inimigos, lutavam por coisas totalmente diferentes. Um fez a revolução, a outra era dondoca, princesinha, apreciadora de brioches.
Maria Antonieta tampa os ouvidos:
ah não… esta palavra de novo não… sempre odiei brioches!
Robens diz consternado:
você vê como são as coisas, nos conhecemos melhor depois que batemos a botas- sujas de cocô de cavalo. Também na verdade, no outro plano, tudo toma uma outra dimensão, em todos os sentidos, se me permite dizer pra você de carne e osso.

É necessário abrir um parêntese aqui para falar das fobias deste segurança do Palácio. Ele tinha medo de fantasma. Não suportava passar na frente de centro espírita e nem permitia conversas sobre o assunto, não assistiu nem os Fantasmas se Divertem no cinema. Parêntese fechado.

Sentando-se num dos bancos macios do quarto de Maria Antonieta ele se virou de costas para o casal e despejou de uma só vez:
trè bien, vou sentar aqui, contar até 10 e vocês dois façam o favor de sumir da minha vista, desapareçam e voltem de onde vieram, pode ser o céu o inferno, pouco me importa, só não quero vocês aqui e arrumem a cama, por favor, como estava antes de vocês dois se enfiarem aí embaixo destes lençóis tão complicados de serem conservados, Maria Antonieta deve saber, não?
E não ouviu resposta.
Maria Antonieta você sabe quanto custa em euros, o dinheiro atual, para manter estes lindos lençóis na sua cama?
Novamente sem resposta. O segurança então se virou de frente para a cama e viu que seu desejo foi realizado. Os dois não estavam lá e as cama arrumada como se ninguém tivesse deitado ali.
Ele ficou uns instantes em choque e depois saiu correndo do quarto.
O resto da noite ele passou rezando e não teve mais nenhuma anormalidade. Mas evitou passar pela sala dos espelhos.

Ao tomar o trem de volta para Paris, na manhã seguinte, ele viu vários prints pelo chão da estação. Era uma peça sobre a revolução francesa apresentada logo após a competição.
Na foto, Maria Antonieta exatamente como ele havia visto a rainha na cama.
Tentou ver uma sinopse da peça e não encontrou nada que pudesse lhe dar uma pista se aquele casal era de carne e osso ou só de ectoplasma.

De segunda feira até o presente momento participou de duas mesas brancas num centro espírita e assistiu o vídeo do Fantasma da Ópera umas 4 vezes.

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