Um abraço

Peço desculpas pela crônica tardia.
O trágico, o absurdo e a tristeza, sucessivos e concentrados, me atingiram particularmente de tal jeito que perdi o paladar por escrever. Não digo que vai passar tão logo porque até o tempo paralisou, mas as teclas sempre me salvam. É por isso que eu insisto.
Cá estou meio troncho fazendo questão de registrar o que considerei uma das coisas mais lindas que vi no apagar das luzes dos Jogos.
Era a final do vôlei de praia feminino, Brasil e Canadá. Lá pelas tantas, uma brasileira e uma canadense se estranharam. Dedo na cara, narinas arreganhadas, gritos inaudíveis, quase nariz com nariz, não fosse a rede e a atitude de deixa-disso das outras não brigonas. Mesmo assim, pintou um climão feio para os padrões olímpicos.
Advertências para as duas, jogo que segue, meninas bufando e caras amarradas.
Antes do saque, pausa para uma surpresa. O DJ ataca de John Lennon cantando Imagine. Nada mais apropriado, nada mais pacífico, nada mais causador de um sorriso contagiante generalizado. Palmas da plateia que cantou junto.
E as beligerantes trocaram olhares bonitos, enfim.
Você pode pensar que eu sou um sonhador, mas não sou o único. Em inglês o verso é mais bonito, mas tanto faz. Importante é sentir a música e seu poder de transformar dor em abraço.
Acho que estou precisando ouvir canções restauradoras.
Tchau, pessoal. Obrigado, leitores e editores, por me levaram as mãos ao aconchego das teclas.

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