Já dá para acreditar que o Brasil seja uma potência nos esportes paralímpicos. Hoje, sexta feira, 27 de agosto de 2021, estamos em sexto no ranking de Tóquio 2020 e tudo indica que a penca de medalhas tenda a aumentar.
Que seja assim. Nossos atletas paralímpicos são admiráveis em superar o destino, os revezes da vida e em esbanjar uma alegria comovente, misturada à gratidão, a cada ouro, prata e bronze no peito.
São deficientes físicos que contrariam o conceito de deficiência, incapacidade, limitações. Correm, nadam, saltam, ralam na contramão de um país que, se mal cuida de seus carentes, desfavorecidos, excluídos e invisíveis sociais, imagine o que deixa de fazer pelos que, por infortúnio ou nascença, seguem a vida do jeito que lhes foi imposta.
Quando terminei minha Pós Graduação em Pedagogia, apresentei um trabalho final sobre As Carências da Educação Inclusiva no Brasil. Foram 12 meses de leituras, entrevistas, vivências, e convivências com especiais, mergulhos na História e nas perspectivas de futuro, que hoje se torna mais sombrio diante da postura retrógada vigente.
Ao longo do estudo, tive algumas surpresas, muitas decepções e várias constatações sobre a dívida que temos como sociedade com esses seres humanos.
Como sou um sujeito de sorte, até um fato emblemático presenciei.
Num café na Zona Sul do Rio, observador contumaz da vida e das pessoas, noto que numa das mesas há um cadeirante. Cara bem humorada, acompanhado de uma criança, que supus seu filho, igualmente de bem com a vida, tomando seu chocolate com misto quente.
A cena me atrai pela alegria da dupla.
Lá pelas tantas, noto que o cadeirante pergunta à garçonete onde é o banheiro, no que a moça automaticamente lhe aponta o fundo do salão.
Mas no meio do caminho havia um degrau, havia um degrau no meio do caminho. E a cadeira empaca. Calado diante da dificuldade, tentando se desvencilhar, é surpreendido por um homem exaltado, que abre um comício.
“Esse é o país que temos! Que não dá condições dignas aos cadeirantes. Todo dia é uma luta! Todo lugar é um perrengue. Será que este café não poderia ter cumprido a lei e construído uma rampa? Onde está o gerente? Onde está o gerente?”
Neste momento, o cadeirante pede ao homem para se aproximar. E cochicha.
“Seu discurso é bonito e justo, mas dá para dar uma empurradinha na cadeira, só pra subir o degrau?”
É isso. Entre a ação e a falação existe uma providencial diferença.
Nossos atletas paralímpicos são admiráveis na ação. Tenho muito orgulho deles. O Brasil, não sei.
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José Guilherme Vereza
José Guilherme Vereza é publicitário, redator, diretor de criação, professor, roterista e escritor de contos, romances, crônicas, o que as teclas mandarem. Tem diploma de Molhos de Massas e Risotos, pretensão para uso estritamente doméstico. Mora em Lisboa desde janeiro de 2022, quando ventos das letras cá sopram um prazer imenso em escrever de tudo, inventar coisas e gentes, dia sim, dia sim. Crônicas Olímpicas é um desses prazeres.
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