O ESPÍRITO OLIMPICO IMPERA

O valor de uma medalha olímpica é incalculável. Nas grandes potências olímpicas , quem ganha uma medalha olímpica, de qualquer modalidade, está financeiramente resguardado para o resto de seus dias. Falo das potências ocidentais, pis não conheço pormenores do que acontece na China ou na Russia.
Em nossa terra brasilis , até pode acontecer, mas não é corriqueiro. Existem tristes casos de atletas que em tempos obscuros venderam medalha para sobreviver.
Sou um leal seguidor da principal mensagem do Barão Pierre de Coubertin, “o importnte é competir”, embora nada tenha contra os vencedores, especialmente meus compatriotas, para quem torço com inegável fervor. Provavelmente seja a simpatia natural que nos faz torcer pelo mais fraco ou mesmo um sentimento de solidariedade pelos “vencidos da história”, que valeu alguns dos melhores textos de Walter Benjamin. Mas torcer pelo mais fraco não apenas uma questão de simpatia pelo menos favorecido; é mais um aspecto da “diversidade” tão em voga em nossos tempos: como o próprio Benjamin anotava, trata-se de partilhar os valores intrínsecos do adversário, seja numa guerra, na luta de classes ou numa mera disputa esportiva. No geral, bem o sabemos, o vencedor não vence “apenas” a disputa, ele também impõe seus valores, superestimando os seus próprios e subestimando os valores do adversário perdedor.
Há casos, entretanto, especialmente em Olimpíadas, onde os não vencedores obtém extraordinários destaque, maior até que dos vencedores (ressaltando que apenas as Olimpíadas proporcionam isso). Vejamos, por exemplo, a Olimpíada de 1984: se realizarmos uma rápida pesquisa no Google sobre esta edição dos Jogos, entre os destaques vai figurar, quase com certeza o feito da maratonista suiça Gabrielle Andersen-Schiess e sua luta desesperada, literalmente se arrastando, para completar os últimos metros da maratona feminina, que pela primeira vez era admitida nos jogos. Quem viu a cena tinha a impressão de que ela poderia ter um colapso a qualquer momento. Indescritível a cena, se alguém não viu e tiver interesse, pesquise Gabrielle Andersen e prenda a respiração, pois deve ser o momento mais emblemático da história dos jogos (até hoje eu sinto forte emoção quando revejo a cena que o cinema nunca fez algo semelhante). Muitas vezes me perguntei o que levou Andersen a agir daquela forma, pois é perfeitamente normal que qualquer atleta desista de uma prova se sentir uma grave lesão . Nunca é demais lembrar que 1984 foi a primeira Maratona Olímpica Feminina. Teria Gabrielle tomado como ponto de honra, não querer que um mulher transmitisse a imagem de fragilidade?
Quando pensamos na Olimpíada de 1984, em Los Angeles, nem todos vão se lembrar da extraordinária corredora, Joan Benoit, ganhadora do ouro e uma verdadeira ideóloga da pratica esportiva, que até hoje, perto dos 70 anos de idade ainda disputa competições, dentro de sua categoria;
Nem todos vão se lembrar do vencedor da maratona masculina, o excepcional português, Carlos Lopes, que ganhou o Ouro aos 38 anos;
Nem todos vão se lembrar do nosso compatriota Joaquim Cruz, vencedor indiscutível dos 800 metros, um momento de glória do atletismo brasileiro.
Todos esses citados acima estão na consagrados na história. Mas nessa história de vencedores e vencedoras, obrigatoriamente estará presente Gabrielle Andersen-Schiess. Ela mesma declarou anos depois que sentia vergonha do estado em que chegou. Ou seja, o ímpeto era mais forte do que qualquer razão: ela não corria pela glória, pela vitória!
Chegar, completar o percurso, estava muito além de qualquer disputa. Lembra um pouco o espírito da “Corrida do Buriti”, famosa competição entre o povo xavantes. Mas isso é tema para outro post.

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