ALGUNS HERÓIS OLÍMPICOS

Em toda Olímpiada há um espaço sagrado, destinado aos Heróis. Falemos aqui de uns pouquíssimos, pois um levantamento mínimo consumiria um bocado de tinta, papel e tempo. Nossas árvores agradecem e aplaudem.
Começamos falando do primeiro e mais ilustre: o corajoso jovem Pierre de Frédy, mais conhecido pelo título Pierre de Coubertin, pedagogo, historiador e praticante amador de esgrima e hipismo. Como pedagogo, enxergava no esporte o componente necessário à educação e a saúde. Só por isso já mereceria uma estátua gigante no Panteão Olímpico. Conhecendo um pouquinho sua história percebemos que faz todo sentido sua frase mais famosa: “O importante é competir.” O Mundo ainda precisa de mais Barões desse quilate!
Organizou, com extremas dificuldades a primeira Olimpíada dos tempos modernos em 1896 e os Jogos prosseguiram, de forma periclitante, até Paris em 1924, quando foi reconhecido como a competição esportiva de maior importância no planeta (a Copa do Mundo de Futebol seria realizada 6 anos depois, em 1930, no Uruguai). O Barão foi seu primeiro e máximo Herói, pois seus princípios ainda regem o “espírito” dos Jogos – mesmo que de vez em sempre alguém cometa avacalhações grosseiras, como o uso de substancias proibidas para obter vantagens.
Damos um breve salto e chegamos aos Jogos de 1936. Hitler e os nazistas estavam com a bola toda. Os arianos se achavam! Eram os mais fortes, os mais bonitos, os mais poderosos, os mais invencíveis (perdoe a irresistível hipérbole!), os mais corajosos, os mais tudo! Mas na hora do vâmo-vê o negro Jesse Owens fez os arianos engolirem poeira e ganhou tudo o que disputou. O Führer, “P” da vida, abandonou o estádio, se negando a cumprimentar o vencedor. Foi a primeira grande derrota de Hitler, o chanceler que 3 anos depois mergulharia o mundo no horror.
Nos Jogos de 1960, em Roma, o etíope Abebe Bikila chegou pra tapar buraco na Maratona. O atleta titular se meteu a jogar futebol e quebrou o pé. Bikila chegou na véspera da prova e descobriu que a poderosa Adidas, fornecedora de material, não tinha um mísero tênis que lhe servisse. Desistir? Nem pensar, Abebe não deixaria de correr nem a pau! Encarou o desafio de correr descalço pelas ruas e pra encurtar , ganhou a prova, quebrou o recorde e fez história! Nada mal, hein? Ah, e de quebra, foi o primeiro africano a vencer.
Em 1968 o mundo estava um bocado tenso, o pau cantava solto. Movimentos pelas liberdades civis nos Estados Unidos, ditaduras mundo afora, ruas de Paris pegando fogo. 1968, depois ficamos sabendo, foi “um ano que não terminou”, segundo Zuenir Ventura. Os Jogos se realizavam na Cidade do México e dois atletas norte americanos, Tommie Smith e John Carlos, respectivamente Ouro e Bronze nos 200 metros rasos, pela primeira vez na História confrontaram o racismo, fazendo no pódio o gesto do grupo Panteras Negras, erguendo o punho fechado. Deve ter sido um fuzuê daqueles! Imagine os burocratas organizadores, o carão que passaram! Foi um grito inicial para acabar com o racismo e a injustiça praticada.
Em 1984, Jogos de Los Angeles tivemos duas heroínas, ambas já mencionadas noutra crônica: pela primeira vez se disputava a maratona feminina, vencida pela grande Joan Benoit. Mas a suíça Gabrielle Andersen-Schiess, que completou a prova em duras condições físicas, roubou a cena, mesmo sendo a antítese da vencedora. Lembrou-nos do “espirito” dos Jogos.
Em 2004, nos Jogos de Atenas, na Maratona Masculina, um milagre se desenhava: o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, enfrentando alguns dos grandes, entre eles Paul Tergat, conhecido de todos nós que cansou de ganhar a São Silvestre. Era inacreditável! Vanderlei fazia uma sólida corrida. Fazia tudo certinho, se poupando nos pontos cruciais e deslanchando. Seu adversários, embora não estivessem tão longe, cerca de 150 metros, corriam com dificuldades, o brasileiro caminhava solerte para o Ouro inédito. Mas, tristemente lembrando o dito popular “Deus dá a farinha e o capeta esconde o saco”, saiu de um lugar qualquer um débil mental que vivia de aparecer, inebriado por uma vontade insana de visualização e “curtidas”, embora ainda não existisse “redes sociais”, o ex padre irlandês Neil Horan. O dito cujo feioso avançou sobre Vanderlei e o arrastou para fora da pista, sabe-se lá com que intenções! O brasileiro foi salvo por um espectador grego, chamado Polyvios Kossivas, que ajudou o Vanderlei a se livrar do irlandês mala sem alça. O incidente foi fatal. Ainda manteve a liderança por mais alguns quilômetros, mas não conseguiu segurar. Ainda ficou com o bronze, mas a verdadeira medalha dele era o ouro. Eu tenho a firme convicção que naquele dia Vanderlei Cordeiro de Lima deveria ter sido declaro campeão, sem prejuízo do vencedor na pista. Foi uma situação excepcional. Por que não declarar dois campeões? Já houve precedentes, mas o tal Comitê organizador não quis saber: negou! Uma vergonha. Foi agraciado com uma honraria rara, mas, se pensam que desistimos do Ouro na maratona… Este ano não dá! Danielzinho, nosso maior maratonista da atualidade, foi afastado. Dizem que foi pego do dopping! Ô, sina!
Em tempo: considero Heróis nos Jogos de Athenas 2004 o nosso Vanderlei e Polyvios Kossivas, o grego que o livrou das garras do desequilibrado ex padre… Kossivas foi, acertadamente, homenageado pelo COB (Comitê Olimpico Brasileiro).

Compartilhar:

Curta nossa página no Facebook e acompanhe as crônicas mais recentes.