Paris, uma ode à superação humana.

Você já reparou como o corpo conversa quando pratica esporte? Sabe? Até grita em silêncio.

Não acredita? Pois vou contar.

Cada movimento, cada gesto, cada passe – tudo isso é uma forma tão eloquente de comunicação que faria qualquer escritor trocar a caneta por uma raquete; o suor escorrendo, os músculos tensionando, o coração acelerando – são parágrafos inteiros sendo escritos de uma só vez, num só fôlego, numa tacada só, aquele pênalti a ser batido, um tiro de 7 metros a ser defendido, uma flecha cortando o ar, só a respiração ali, o corpo deslizando na água.

Pois bem, pense no silêncio antes do tiro de largada numa corrida de 100 metros, a contratura, a concentração de um corpo com anos de treino, a história que está sendo contada. É como se cada fibra muscular fosse uma palavra, cada gota de suor uma vírgula nesta que é uma narrativa de dedicação, atenção, cuidado e esforço. E desenrola bem diante nossos olhos.

E sabe de uma coisa? Mesmo no alto rendimento, onde o suor é sangue, o esporte pode ser um lugar de refúgio. E digo mais, com a ousadia de quem não tem medo de ser feliz, é este mesmo conforto que eu sinto quando assisto aos Jogos Olímpicos porque ali, naquele campo, na quadra, naquela piscina, eu e os atletas estamos falando a mesma língua, aquela mais antiga, que dispensa tradução, que apenas existe, que é o corpo em movimento.

Confesso: o esporte sempre foi um lugar que permitiu eu me conectar com as pessoas. Quando a bola saía das minhas mãos e chegava nas mãos de alguém da minha equipe, era o momento em que eu, tímida que só, de dar dó até, finalmente conversava. Era como se cada passe carregasse um pedacinho de mim, uma palavra não dita, um sorriso escondido, ei, “eu, aqui!”. A bola era minha intérprete fiel, traduzindo meus pensamentos em ações, meus sentimentos em jogadas, minhas inseguranças em lances dignos de puro reconhecimento, de fala em fala, de letra em letra.

Agora pense em quantas histórias são sendo contadas nestes Jogos Olímpicos.
Quantos romances, quantos poemas, quantas crônicas estão sendo escritas.

Talvez, por isso, o basquete seja meu esporte favorito. É tanto vaivém de bola que a conversa fica intensa, dinâmica, sem rodeios ou lenga-lenga e dizendo ao que veio. Pá-pum, a bola vai. Pá-pum, a bola volta. E nesse vai e vem as palavras fluem, as risadas ecoam, as amizades se formam.

Quantas histórias em Paris, quantas histórias!

Cada salto, um verso livre. Cada arremesso, cada braçada e, nós, boquiabertos, aqui assistindo a este espetáculo onde o corpo fala, músculos, suor e glória. Na ginástica artística, na esgrima, no judô, no skate, no surfe, no vôlei, no tênis, no tênis de mesa, este dialeto próprio, a letra incorporada, os cantos, os gritos de quem não conseguiu, a concentração de quem caiu e se levantou, corpo e alma.

Uma ode à superação humana.

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