Se a vida é um suspiro, o esporte é seu palco favorito. E que palco!
O,234 foi a distância que separou o Brasil da Grã-Bretanha na ginástica artística, esse esporte onde o erro é sepulcral, pecado mortal e onde a perfeição é uma deusa cruel e caprichosa, para lá e para cá.
Veja se eu não estou com a razão, se não é verdade, se não vivemos um mundo marcado por inteiros, este em que estamos acostumados a contar como quem soma 1 mais 1: um gol, um tiro de meta, uma flecha que pode ir até 10, um ponto no vôlei, no tênis, no badminton ou até 3 na cesta do basquetebol.
1 mais 1 mais 1 mais 1 mais 1 e por aí vai até que se sagre um campeão.
Mas na ginástica? Na ginástica 0,234 é o abismo entre o céu e o inferno, especialmente quando você está em sexto lugar, precisando tirar mais de 2 pontos e já se iniciou a outra metade da competição. Daí, meus amigos, é preciso operar um milagre para ser contado nos decimais de qualquer unidade que não é única.
É menos que um suspiro.
0,234 é o sorriso que faltou porque a atleta cortou o supercílio ou porque aquela gota de suor, traidora e impertinente, resolveu fazer seu caminho justamente onde não devia e te fez escorregar da trave. É o músculo pesando mais do que o universo e, bem, são as finais dos Jogos Olímpicos, tem ainda a flatulência nervosa da torcida.
Magnésio, suor e ansiedade.
A competição foi decidida no último elemento da ginástica da última atleta da Grã-Bretanha a competir e que o diabo me carregue por tamanha confissão, mas, sejamos sinceros, nós nunca rezamos tanto por uma queda, pois bem, como ainda quero me manter com deus, vamos de um pouco menos, um deslise, um tropeço, qualquer coisa menos o maldito gesto perfeito, não agora.
A esta altura somos nós que já não estamos inteiros, inclusive passamos a observar tudo em frações, olha lá, não viu?, é a pontinha do pé que não ficou tão na ponta assim.
Espera.
1 minutos, 2 minutos, 10 minutos, quanto tempo tem o tempo que leva para divulgar e computar as notas finais?
Arbitragem.
0,234 é a medida exata da crueldade divina.
Choro, suor e bronze.
Braaasiiiilll!
Rebeca Andrade.
Jade Barbosa.
Flávia Saraiva.
Lorrane Oliveria.
Julia Soares.
Xico.
Iryna.