Apesar de gostar de esportes e vibrar com as competições, eu nunca fui muito bem na prática. Fugia das aulas de educação física na escola e jogava muito mal o vôlei com o pessoal da rua, só pra me enturmar. Andar de bicicleta aprendi, mas peguei trauma de trânsito depois de ser “atropelada” por um ônibus. Como nadadora, uma decepção, só vou até onde “dá pé”.
Há uns 15 anos, durante uma viagem de férias a Natal/RN, conheci um jovem casal que despertou meu interesse e admiração imediatos. Daniele, uma linda morena que tinha deficiência visual, empurrava a cadeira de rodas de seu marido, Ademir, enquanto ele dizia a ela o caminho. Os olhos dele eram os dela. As pernas dela, as dele. Mas eu e creio que todos do grupo de passeio ficamos pensando em como eles poderiam visitar as praias e participar de todas as atividades. Afinal, não eram passeios especialmente preparados para eles. Eram comuns a todos os turistas. Mas em praticamente todos os que eu fui, lá estavam eles, dispostos e felizes.
No voo de volta eu, que já tinha feito amizade, sentei-me ao lado direito da Daniele. Ela me mostrava toda animada as fotos que haviam tirado da viagem: montada em um cavalo, andando de bugue, fazendo “skibunda” nas dunas e outras estripulias que eu não tinha tido coragem de fazer. Era tão ligada, que nos chamou a atenção pelo fato de estarmos passando as fotos da forma incorreta. “Está errado”, ela disse. “Estão vendo as fotos de trás pra frente”. Na mesma câmera, também havia imagens da minha recente amiga praticando goalball, um esporte olímpico, criado especialmente para deficientes visuais. Mais tarde, quando tive dificuldade para encontrar o local para plugar o fone de ouvido, quem foi que me ajudou? A Daniele. Tateou a borda do braço da minha cadeira e me disse “conecta aqui”. Naquela hora me perguntei quem tinha deficiência ali…(rs).
Contei tudo isso porque a história me veio à mente agora que estamos a um dia do início das Paralimpíadas do Japão. Certeza que lá estarão muitas Danieles e muitos Ademires, prontos para nos mostrar do que são capazes como atletas de alto rendimento, dedicados e apaixonados pela vida e pelo que fazem de melhor. Que venham as medalhas!
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Fátima Gilioli
Fátima Gilioli é jornalista e escritora, autora do livro “Código 303 Uma reportagem sobre o alcoolismo, a doença da negação” e da distopia “#EsseFuturoNão!”. Tem participação em antologias como: Mar Infinito, A Rua dos Versos, Cadeira de Mulher - Crônicas, Contos e outros Pontos... Atualmente ocupa a cadeira nº. 18 da Academia Guarulhense de Letras. Ministra palestras sobre Alcoolismo, organiza encontros literários e saraus. Visita escolas, falando sobre escrita literária. Faz trabalhos de revisão de textos e é responsável pelo conteúdo do blog VamosComentar1@blogspot.com.
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