Louvre, Paris, 26 de julho do ano de 2024.
Estimado Leonardo,
Trago-te novidades sobre teu afresco L’Ultima Cena.
Acredito que, em 1495, algumas informações retratadas, não eram de teu conhecimento e, penso ser sentato, corrigí-las, caso contrário, infalivelmente, serás sufocado pelas imposições atuais.
Quinhentos e vinte e nove anos após tua produção, os apóstolos foram renumerados e passaram a ser dezesseis.
Além da discrepância nos números, relato-te que os missionários escolhidos por Jesus Cristo, para pregar o Evangelho, não são apenas homens.
Explico-te: os filhos de Deus não querem mais ser o que nasceram para ser.
Existe grande e indiscriminada transmutação da realidade.
Apóstolos com vestes em cores inomináveis, cabelos campânula, muitos, falsos e, acredite:
Jesus Cristo está retratado como uma mulher corpulenta e roliça, vestida com lantejoulas lápis-lazuli.
Uma criança junta-se à Santa Ceia que, sobre a mesa, não encontramos mais o pão e o vinho.
Enfim, prezado amigo, de Superstar, Jesus Cristo passou a ser LGBTQIA+.
Por hora, é o que tenho a comunicar.
Aconselho a entrar em contato com a Santa Maria della Grazzie e retratar-te.
Ou explicai-vos que, após a Santa Ceia, Jesus Cristo foi crucificado.
Antes de despedir-me, rogo-te proteção de quaisquer blasfêmias em minha áurea imagem.
Iluminai-vos, Da Vinci.
De tua eterna,
Gioconda.
Amboise, 1519.
Minha querida Gioconda,