Heróis com a cara do povo

O bom de fazer crônicas sobre os Jogos Olímpicos é a infinidade de informações à disposição. Você não precisa ter visto tal ou qual disputa pra ter assunto. Eles pululam na nossa frente.
Tenho dado sorte. Ontem, o pouco que vi dos meninos do vôlei de quadra foi a virada em cima da Argentina, num momento histórico e emocionante. Mais tarde, zapeando os canais esportivos, entrei no mar exatamente na hora da manobra consagradora do Ítalo, aquela que lhe deu a maior nota do esporte em sua estreia em Tóquio.
Hoje de manhã, antes de ter que me despedir das provas do dia, consegui ver a virada das meninas do vôlei de quadra, o gol da Andressa Alves em Zâmbia, um pouco do noticiário sobre as premiações da Rayssa e do Ítalo.
Aí fiquei rindo sozinha pensando naquelas pessoas que não gostam de povo, desprezam sobretudo o povo brasileiro. Se for nordestino, então, pensam logo em separar o país pra não ter que dividir nada com “gentinha”.
Ri de alegria e prazer imaginando se essas pessoas estão ou não celebrando o ouro do potiguar, a prata da maranhense, como e se elas se reconhecem nos nossos lindos heróis olímpicos.
Mais tarde, me sentei numa padaria pra tomar um capuccino e um senhor mais velho me abordou. Conversamos um tiquinho. Ele não identificou meu sotaque:
– A senhora é gaúcha?
– Não, sou mineira.
– Que bom, adoro os mineiros! Vocês são muito gente boa!
– E o senhor, da onde é?
– Sou cearense.
– Que ótimo, também adoro os cearenses. Vocês também são muito gente boa.
– Somos mesmo. E lá não tem preto.
– Ah, que pena! Adoro preto!
Ele pegou o cafezinho dele e saiu de fininho.
Com o pão nosso de cada dia, o racismo nosso de cada dia.

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