E acabou mais uma edição dos Jogos Paralímpicos, essa de Tóquio, em que o Brasil bateu recordes sobre recordes, fez sua melhor apresentação, ficou em sétimo lugar, ultrapassou as 100 medalhas de ouro, superou-se a si mesmo e todos os percalços possíveis.
Quatro anos atrás, estava eu no Rio de Janeiro cobrindo os jogos passados quando recebi a notícia da morte de um grande amigo. As emoções todas se misturaram, embaralhando tristeza e orgulho, saudade e alegria, fé e desânimo, tudo embolado num turbilhão de risos e lágrimas.
As Paralimpíadas fazem isso com a gente. Tem hora que dá revolta ver pessoas que perderam membros por irresponsabilidade de um motorista alcoolizado. Dá compaixão (no sentido de sentir junto, não de peninha) acompanhar uma pessoa com movimentos limitados e que, mesmo assim, faz com perfeição uma porção de coisas que ninguém com todos os membros saudáveis conseguiria.
Porque eles próprios, os “paralímpicos”, não querem ser tidos por super-heróis. Querem respeito e empatia, oportunidades e estímulo, mas não dó nem expectativas de superioridade. Somos todos iguais, dizem. Porque, de fato, somos.
Tem gente que tem dificuldade de olhar pra uma pessoa sem pernas ou sem braços, ou deformada, ou anã, ou cega, surda, com paralisia cerebral ou síndrome de Down. O corpo “imperfeito”, a fala “diferente”, o olhar que não vê – tudo isso mexe com nosso cérebro e nosso coração, que procura o belo no desenho do equilíbrio formal.
Aos poucos, os Jogos Paralímpicos vão nos ensinando a ver o belo no humano, como vemos na natureza. Natureza humana múltipla, infinitamente capaz, sem limites. Sigamos aprendendo tudo isso. Aplaudindo, respeitando, valorizando, nos divertindo juntos, sendo diferentes. Igualitariamente diferentes.
Na foto, Silvana Fernandes, bronze no parataewkondo