O Hotel

Olimpíadas se aproximando, todos preparando as malas, com reservas em hotéis feitas, tudo pronto para assistir de perto os jogos olímpicos na belíssima Cidade das luzes. Pelo menos aqueles que podem se permitir esse luxo. Os reles e demais mortais se contentarão em acompanhar os jogos a distância.
Por falar em viagem, em esporte, me lembrei de minha última viagem, que por coincidência envolvia prática esportiva. Certo dia recebi de um amigo um informe de que haveria uma grande corrida na capital do meu estado, uma espécie de São Silvestre regionalizada. Esse amigo, muito empolgado, me convidou e colocou a maior pilha, dizendo que viajaríamos de carro, sem custos, porque ele conseguiria patrocinador para bancar o combustível, lugar para nos hospedarmos, que eu nem me preocupasse, pois já estava tudo arranjado.
Eu deveria ter desconfiado, pois quando a esmola é demais, o santo sempre desconfia. Mas meu alerta de cilada devia estar com defeito, acabei cedendo à pressão e me inscrevi para a tal corrida. No final das contas, o amigo que insistiu para que eu fosse, por uma desculpa qualquer, desistiu da viagem na última semana e me deixou sozinha no barco, ou melhor, no busão.
Como sou daquele tipo de pessoa decidida e quando me disponho a fazer algo não volto atrás, decidi ir assim mesmo, sozinha. Pesquisei por hotéis próximo ao local da largada, algo que fosse econômico, afinal a viagem sairia mais custosa do que eu planejava. Na véspera do evento, cheguei na capital e fui direto retirar o material da prova. Com o kit em mãos segui para o hotel. Fiz o check-in e subi pelo elevador. Até então tudo bem.
A grande surpresa veio ao abrir a porta do quarto e me deparar com um cenário caótico. Um quarto bem diferente das fotos harmônicas e bem iluminadas que havia no site de viagens. A impressão era de estar entrando em um sarcófago. O lugar era minúsculo e apertado, não existia nenhuma janela ou entrada de ar, apenas um cheiro forte de mofo. As paredes pintadas de preto, com diversos desenhos de cobras e pirâmides mal feitos, em cores neon berrantes, dava a impressão de que a decoração fora feita por algum descompensado compulsivo, com uma lata de tinta na mão, depois de um consumo excessivo de drogas.
Achei aquilo tudo muito bizarro, mas tentei ignorar, estava cansada demais para raciocinar. Coloquei as malas em um canto e fui direto para o banho. Sai de lá um pouco mais relaxada e tentei ignorar a cama arredondada, o disjuntor que ligava uma meia luz em tom de verde e os espelhos bisonhamente pintados à mão nas duas paredes. “Que lugar é esse”, pensei, mas logo dissipei qualquer pensamento que pudesse perturbar meu descanso.
Tentei ignorar também, o pequeno painel com um som veicular ao lado da cama e os preservativos sobre o frigobar, pois tudo que eu queria era deitar naquela cama redonda e dormir até amanhecer o dia, ignorando completamente o local inóspito e insalubre que havia reservado para pernoitar. Apaguei as luzes, e logo peguei no sono.
Dormi profundamente por algumas horas, quando acordei senti fome. Ao pegar o cardápio que estava em cima do balcão em um canto do quarto, levei o maior susto. No verso do menu, ao lado da tabela de bebidas alcóolicas, havia a lista de produtos especiais: vibradores, gel estimulante, baralho e jogos eróticos, etc.
Se ainda restava dúvidas de onde eu estava, elas se dissiparam à meia noite. Logo a clientela do hotel encheu os quartos, e, os corredores foram tomados por pancadas cadenciadas, tapas e gemidos. Foi então que me dei conta que o hotel onde fizera a reserva não era exatamente um hotel convencional.

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