É engraçado como anônimos se transformam em “heróis” com mais rapidez com que a mídia transforma medíocres em celebridades nos Reality shows que proliferam por aí hoje em dia. Anônimos de valor, diga-se. Só não pode sucumbir à enorme pressão de agradar a todos em tudo.
Desde que me conheço por gente torço por atletas brasileiros nos jogos olímpicos. Já até escrevi sobre as frustrações que são parte integrante desse processo. Esperamos sempre que nossos atletas, que em dado momento são os melhores do mundo, mantenham seus respectivos desempenhos, mas, geralmente, nos decepcionamos. Lembro-me do João do Pulo, recordista mundial ao chegar a Montreal 76 que saiu dali “apenas” com o bronze. Quatro anos depois, em Moscou, foi escandalosamente roubado pelos russos.
Fracassos são o outro lado da moeda do sucesso, faz parte. Mas os nossos abusam um pouco da arte de fracassar. No futebol, sempre fomos protagonistas e nossos resultados olímpicos não refletiam isso, apenas no Rio em 2016, conseguimos lograr um ouro. Tivemos atletas de atletismo recordistas mundiais que, na hora “H,” não conseguiram repetir o desempenho, justo quando mais era preciso! Gabriel Medina tem todo o meu respeito como atleta e cidadão. Mas as recentes disputas com a federação e mesmo sua família, aparentemente por causa de seu casamento com uma moça que não sabe ficar em segundo plano, parece ter atrapalhado muito sua concentração. Não sou expert em surfe, mas me parece que os japoneses deram uma “forcinha” para o patrício, prejudicando Medina, que acabou fora do pódio. Pouco para um bicampeão mundial. Ainda bem que tínhamos Ítalo Ferreira, que não decepcionou e trouxe o tão sonhado ouro!
Leio que este está sendo o nosso melhor início de sempre. Um amigo português em sua rede social (Facebook) comemora os “diplomas” obtidos pelos nossos irmãos de além-mar: curioso como sou, perguntei o que seriam os tais diplomas? Ele me disse que os resultados em finais entre quarto e oitavos lugares garantem um diploma. Confesso que não sabia disso: esporte é cultura!
Nos contentamos com pouco, ano após ano. Nossas embalagens vão encolhendo, quer um exemplo? – as barras de chocolate que antes pesavam 200 gramas estão hoje reduzidas em peso a 90 gramas, mas nunca no valor! E nos resignamos em sermos roubados, enganados. Depois nos ofendemos quando somos chamados de “gado”. O reflexo de nossa participação é o retrato do país: alguns atletas fenomenais carregam praticamente nos ombros o peso de nos representar. Melhoramos em alguns aspectos, temos as bolsas para esportistas que merecem apoio, com diferentes graus de valor: aparentemente tem uma que se chama passaporte, destinado aos atletas ranqueados entre os vinte primeiros do mundo em suas respectivas modalidades que pagam valores maiores. Justo, eu diria.
Qual o problema então? A falta de planejamento, de regras claras, as federações corruptas e inaptas que desviam boa parte dos recursos públicos, documentados em recentes escândalos na imprensa. Fomos capazes de organizar uma edição dos jogos olímpicos, superfaturados e tal, mas não somos capazes de fazer um planejamento sério e sequencial. Esporte de base tira os jovens das drogas. Até minha avozinha, há muito falecida, sabia disso. Precisamos de mais espaços públicos para a prática de esportes, mais incentivo, mais cobertura. Não podemos viver dos booms temporários dos Gugas, Popós, Gustavo Borges, Cesar Cielos, Oscars,Hortências, Diegos Hipólitos.
E o skate? Ah, tem o skate. Palmas para o Kelvin, medalhista de prata e para a fadinha-recém-convertida-celebridade, também prata. Não sou familiar com o esporte, respeito aqueles que o praticam a sério, a imagem está melhorando rapidamente e torná-lo um esporte olímpico era plano antigo. Mas eu sou chato e purista, ainda sou torcedor cativo da natação, do atletismo, do volleyball, do basquete (lamentavelmente sem representação brasileira nesse evento), da vela, do judô, do ciclismo. Eu demoro para me acostumar com as novidades, pode ser que eu venha a me acostumar a ver skate e surf como esportes olímpicos. Melhor que aquelas lutas greco-romanas!
Vamos então para mais medalhas, para mais sonhos realizados ou frustrados, mais madrugadas insones. Desisti de esperar ver em meu tempo de vida um progresso real em nosso país em vários campos, e o esporte é um deles. O círculo vicioso a que fomos condenados nos segura como força centrifuga da mediocridade e do medo de ser feliz! Avante!
Para não dizer que eu não falei de skate (Ou uma colcha de retalhos de divagações contemporâneas que estarão datadas em minutos)
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Cezar Fittipaldi
Escritor diletante, ourinhense de nascimento e coração, professor de escola pública, ex-empresário, eterno sobrevivente nesse país de desafios, encara a vida como uma gigantesca obra literária em tempo real. Seu esporte favorito é o automobilismo, gosta de basquete, atletismo, natação e o futebol já foi mais apreciado. Já assistiu a numerosas copas do mundo, todas pela televisão, e torce comedidamente pelo time do Brasil, sabendo separar ufanismo e nacionalismo de amor ao esporte.
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