Nessa pandemia, o número de sem-tetos aumentou, principalmente em países periféricos. Mas o fato que chocou o mundo foi o surgimento de outra “classe” social (me perdoe, Marx): a dos sem-Olimpíadas. O exemplo já mais famoso é o de Yasmin Brunenê, mulher de Gabriel Medinha, que sem a amada ao lado terá menos forças para competir. Por causa dos protocolos de segurança contra a Covid-19, o nefasto Comitê Olímpico Brasileiro (COB) anunciou o direito a somente um acompanhante por atleta. Como um técnico foi primeira opção de Gabriel (o que, me parece, não está errado), sua amada ficou em segundo plano, sem poder ser credenciada. O descaso e a falta de respeito contra o atleta, a modelo e todo o Brasil são de uma proporção tão grande quanto as próprias Olimpíadas. Será possível que nós, povo razoavelmente passivo se levarmos em consideração nossa história, também venhamos a permanecer calados perante uma afronta que pode colocar em risco nossas vitórias, além de nossa unidade e de nossa identidade nacionais? Por que a população não se mobiliza nas ruas, que sempre devem ser politicamente ocupadas? Ocupação e mobilização com as medidas preventivas são exemplos a serem demonstrados e seguidos. A Yasmin sabe disso e seguiria todas as medidas em Tóquio. Será um preconceito, principalmente de gênero, contra uma mulher branca cishetero de classe (muito, a mais) alta que está perdendo seus direitos por causa da “onda” conservadora de desmonte do país? Afinal, por que o marido pode ir e sua mulher não? Não importa se as Olimpíadas já começaram. Isso não pode ficar assim. Com certeza todos se recordam do poema brechtiano contra a alienação e o descaso, que termina com os seguintes versos:
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Enfim, meras palavras de ordem em redes sociais não mitigarão tal tenebroso retrocesso. “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio”? #OlimpiadasParaTodos
#DigaNaoAoRetrocesso