PIREI NAS OLIMPÍADAS

– Desenha-me um camelo?
Imaginem qual foi a minha surpresa quando essa vozinha estranha me acordou de meu cochilo.
– Desenha-me um camelo?
Esfreguei bem os olhos. Olhei ao meu redor. E vi aquele homenzinho que me observava seriamente. Então caiu a ficha. Era o Pequeno Príncipe. Mas então o desenho era outro. Falei:
– Não seria um carneiro?
O principezinho sumiu e aí vi que ainda estava sonhando, e, na TV, Camello marcava o segundo gol da Espanha, eliminando a França e Saint-Exupéry.
E logo a TV me mostrou um avião caindo não em um deserto, mas em Vinhedo. Vou parar de tomar vinho durante o almoço.
*
Reminiscências literárias, agora de Hoffmann: O homem de areia. Sim, pensei nesse estranho livro ao ver os prodígios da russa naturalizada alemã Darja Varfolomeev. Medalha de ouro na ginástica rítmica. Achei que estava sonhando: aquela linda mulher alta, alva, amável – como uma personagem do conto “Sequência”, de Guimarãe Rosa, mas muito parecida com Olympia, a boneca bailarina do conto de Hoffmann: aquela criação do Dr. Coppelius que deu origem ao ballet “Copélia”.
Darja, esguia e anja, com bastões ou arco, gira e plaina e rodopia e dança.
Meus olhos cheios de areia.

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