DE BRONZE E DE GÁRGULAS

Será que, em plena Olimpíada, nós, brasileiros, voltamos à Idade do Bronze?
Conhecido como o último período da Pré-História, a Idade do Bronze caracterizou-se pela descoberta dessa mistura metálica de estanho e cobre. Não estranhe o leitor, este texto não cobre árida matéria de História ou Química: quero é fazer uma liga com as medalhas de bronze que o Brasil tem ganho nos Jogos Olímpicos.
O Brasil, principalmente no futebol, despreza o vice; imagine, então, o desdém para um terceiro lugar. O bronze seria mais feio do que a prata e o ouro? Não, não há feiura no bronze, somente mérito. Se o bronze produziu armas, estátuas e sinos, ele está ligado à luta, à glória e à sonoridade que celebra, alerta, chora – missão dos sinos, tão bem cumpridas pelo Corcunda de Notre Dame, o tão sofrido Quasímodo.
Ah, essa personagem de Notre Dame de Paris que circunda sempre em minhas lembranças acabou roubando o próprio título do romance de Vitor Hugo: todo mundo fala mesmo é no Corcunda de Notre Dame, imortalizado no cinema por Chaney, Laughton, Quinn e Hopkins, e mesmo na animação de Disney.
Quasimodo é associado à feiura, uma espécie de bronze entre o ouro e a prata. E ele chorava abraçado às gárgulas, aquelas estátuas góticas grotescas da igreja. E ele lamentava: Por que não sou feito de pedra? (e me recordo do escritor João Etienne Filho falando essa frase, no Ali Ba Bar de Belo Horizonte).
Interessante que a função das gárgulas não é a de apenas enfeitar o monumento: é um desaguadouro, livra as paredes do templo do excesso das águas pluviais. Dizem que, na Idade Média, no Sena, havia a serpente La Gargouille, que deu origem ao termo. Agora, que o excesso de chuva prejudica as águas do rio Sena e, consequentemente, provas olímpicas, é preciso que um herói ou as próprias gárgulas desçam da igreja e façam seu trabalho.
E elas vão merecer, no mínimo, o bronze.

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