– Quanto custa um sonho, seu João?
Foi com que esta pergunta que Mariazinha chegou na padaria para comprar os pães do café da manhã. Era assim todo final de semana, quando não saia cedo para estudar na escola do bairro.
Sorridente e simpática, meio intrometida para seus tenros 10 anos, gostava de ouvir as conversas dos outros:
– Precisamos resgatar as cores da nossa bandeira – bradava uma jovem de camiseta vermelha – não conseguimos na Copa do Mundo, precisamos tentar de novo agora com as Olimpíadas!
Seu João apenas concordava com a cabeça, enquanto Mariazinha pensava na bandeira do Brasil toda desbotada.
Com o skate debaixo do braço, Mariazinha voava e dava cambalhotas por aí. Tinha que voltar para casa e não podia perder mais tempo com aquela conversa desconexa dos adultos. Mais tarde tinha aula de ginástica olímpica e não poderia se atrasar.
Mariazinha era a caçula da família e dividia o quarto com os dois irmãos. No seu único cantinho, guardava as fotos com Rayssa Leal e Rebeca Andrade, idolatria conquistada durante as Olimpíadas de Tóquio, e sonhava, sonhava de olhos abertos, imaginando como seria ser como elas:
– Onde estão os pães, Mariazinha? – perguntou sua mãe, vendo apenas um sonho na mesa da sala.
Lá foram ela e o skate de novo para a padaria. Como de costume, as conversas alheias sempre lhe chamavam atenção:
– Mas, seu João, só tem bandeira de partidos políticos nestas manifestações, eu até concordo com parte das discussões, mas eu não vou! – dizia um jovem rapaz com a camisa amarela da CBF.
Seu João apenas concordava com a cabeça, enquanto Mariazinha se perguntava porque os partidos (e os tais) políticos eram tão maus a ponto de separar família e amigos.
Os pães esquecidos ainda estavam quentinhos em cima do balcão. No caixa, o jovem rapaz de amarelo abraçava aquela moça de vermelho. Ao fundo, uma bandeira do Brasil e a televisão ligada no canal de esportes, afinal os Jogos Olímpicos estavam chegando.
Seu João olhou carinhosamente para Mariazinha, interrompendo o seu silêncio:
– Quanto custa um sonho, Mariazinha?
– Cinco reais, seu João!
– Não, Mariazinha, não este sonho. Me refiro aos nossos sonhos. Quanto custa um sonho? Quanto custam nossos sonhos? O que devemos fazer para realizar nossos sonhos?
Mariazinha não soube responder àquelas perguntas. Talvez, fossem sérias demais para os seus tenros 10 anos.
– Eu vivi 70 anos ouvindo a história do Brasil ser o país do futuro. Hoje, eu só consigo ver o Brasil como um país do passado, porque o presente nunca chegou, nem sei se chegará.
Mariazinha apenas concordava com a simpatia do seu sorriso, enquanto a TV mostrava os gols da Marta nas últimas 05 Olimpíadas.
Horas depois, após a aula de ginástica olímpica, Mariazinha voltou à padaria com seu inseparável skate:
– Seu João, eu descobri quanto custa um sonho. Muito suor, dedicação, trabalho, SONHAR E ACREDITAR!!
Seu João apenas concordou de forma tímida. Com esperança no futuro, voltou a sorrir.
– Quanto custa um sonho, seu João? – gritou lá da porta um desconhecido menininho de 06 anos com um álbum de figurinhas das Olimpíadas debaixo do braço.
Seu João olhou para Mariazinha. Na TV, uma homenagem para Hortência, Magic Paula, Janeth e companhia.