Um dia. Vinte e quatro horas. Hum mil, quatrocentos e quarenta minutos. Oitenta e seis mil e quatrocentos segundos. Assistimos às Olimpíadas vinte quatro horas por dia por todos estes minutos e segundos. Quando acaba a agenda parisiense, o fuso horário ainda nos ajuda, deixando que as ondas do Taiti invadam as nossas salas. No dia seguinte, já estamos lá madrugando para começar novamente, mesmo numa segunda-feira de preguiça.
Tudo isso num só dia. Dias de tantas emoções. Para os atletas de todas as nacionalidades, para nós brasileiros.
Quão demorados são aqueles quatro minutos das lutas do Judô! Têm também os minutos do “golden score” que podem ser tornar apenas alguns segundos com o golpe fatal. Uma eternidade angustiante que só termina horas depois com a subida ao pódio. Degraus da imortalidade que consagraram Larissa Pimenta e William Lima, nossos heróis judocas e primeiros medalhistas do país em Paris-2024.
Foram aproximadamente vinte e um minutos para ganharmos as medalhas do Judô e do Skate Street Feminino. Talvez mais, quiçá, menos, porém eternos. Naquela mesma volta do ponteiro, Rayssa Leal se tornava a mais jovem atleta a medalhar em edições diferentes dos Jogos Olímpicos. De Tóquio-2020, atrasado pela pandemia, até Paris, a menina cresceu, tornou-se adolescente e continuou grande. Gigantesca, daqui uns dias, a professora pedirá que ela conte na redação como foram as suas últimas férias. Simplesmente, ela poderá começar: “Inesquecíveis novamente!”
As meninas da Ginástica Artística também trouxeram brilho aos nossos olhos com sua participação na fase de classificação. Agora, durante os próximos dias, brigam por medalhas e para serem as melhores do mundo. Aqueles setenta… noventa segundos da apresentação do Solo, por exemplo, admirando a união da arte e da música com o talento, ficam eternos. Para alguns, demorados demais; para outros, apenas apaixonantes; mas não há como negar que os “setenta” segundos podem ser sete minutos ou apenas alguns segundos. Tudo depende da eternidade do segundo de cada um.
Agora, o que falar dos japoneses, nossos algozes? Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil em 1908 e cento e dezesseis anos depois resolveram nos atormentar pelas vielas parisienses. Foram confrontos no Judô, Rugby, Skate, Badminton, Futebol, Surfe, Vôlei de Praia, foi a brava Rafa Silva no Judô, tudo com a predominância dos nipônicos.
Tudo isso naquele tique-taque do relógio no qual, em 10 minutos, elas – japonesas – fizeram dois gols, vencendo nossa Seleção Feminina de Futebol.
Tudo isso para viver esta questão (a)temporal dos dias, horas, minutos, segundos e dos anos de treinamento. Para viver e testemunhar, a cada quatro anos, um novo ciclo Olímpico e a luta pela medalha nos próximos Jogos.
Tudo isso para sofrer junto com o quinto lugar do cachorrão Guilherme Costa na Natação. Na eternidade dos centésimos de segundo, deixou de ser segundo num piscar de olhos.
Pois, afinal, aqueles segundos como medalhista correm numa velocidade totalmente diferente daqueles segundos da decepção olímpica.