Paris é uma festa, e que festa!

Sim, estou atrasada. Já faz uma semana que as Olimpíadas começaram e muita água já rolou às margens do Sena, mas não tenho como ignorar o que foi, para mim, a mais bela abertura de todos os tempos.
Como uma pessoa que ama a arte, a abertura dos Jogos Olímpicos sempre é algo muito esperado por mim. Então, na sexta-feira, estava ansiosa para saber como seria o espetáculo desse ano. Como o evento foi transmitido durante a tarde, horário em que estou trabalhando, durante a noite eu e minha mãe decidimos procurar a gravação no Youtube.
Pipoca e controle remoto na mão, lá fomos nós descobrir o que os franceses tinham preparado. De cara, a melhor das surpresas: o evento não aconteceria dentro de um estádio e sim nas ruas de Paris. Um evento aberto ao público, totalmente democrático e com o cenário mais perfeito que poderia existir: a própria cidade. Genial!
E as delegações, ao invés de desfilarem enfadonhamente pelo estádio, chegavam de barco por outro emblemático símbolo parisiense: o rio Sena.
Daí por diante, o encantamento só aumentou. Com uma narrativa muito bem amarrada, os donos da casa trouxeram uma figura mascarada como protagonista. Arno, personagem da série de videogame Assassin´s Creed, produzida pela França, chegou de barco, navegando pelas sombrias catacumbas do metrô de Paris e seguiu deslizando por tirolesas, saltando pelos telhados da cidade e finalmente montado em um cavalo também de ferro, que trotou sobre as águas em uma das cenas mais bonitas do evento.
A abertura foi dividida em 3 atos: Liberté, Égalité e Fraternité e destacou, como nenhuma outra, temas ainda tão caros ao nosso mundo, como o respeito à diversidade, a necessidade da inclusão, a importância da arte e da cultura e o valor da história.
Teve Lady Gaga cantando e dançando no melhor estilo cabaret. Ballet acrobático nos andaimes da catedral de Notredame, ainda em processo de restauração. Cenas lindíssimas gravadas na biblioteca de Paris, homenageando o amor. E até um inusitado coral com várias cabeças decapitadas de Marias Antonietas, em frente a um palácio, seguido por uma mistura poderosa de rock com ópera.
Teve bailarinos hasteados como flâmulas. Marselhesa na voz de uma magnífica intérprete negra, também do alto do telhado. Teve breaking dançado por um bailarino sem pernas.
Teve o polêmico desfile de Drag Queens na ponte Debilly e a ainda mais polêmica cena que reuniu esses mesmos personagens ao longo de uma grande mesa, uma possível referência à Santa Ceia (que foi negada até a morte pela organização do evento).
Teve novos monumentos a mulheres que fizeram história surgindo de dentro do Sena. Celine Dione cantando Édith Piaf na Torre Eiffel com uma performance de arrepiar. Teve muita ousadia, criatividade e, acima de tudo, representatividade.
Soube mais tarde que muitos odiaram o espetáculo. Alguns, por acharem que a cerimônia feita ao ar livre ficou dispersa e só funcionou para quem viu pela TV. Outros, por se sentirem ofendidos com a tal referência à Santa Ceia e muitos, creio eu, por acreditarem que o Belo não pode coexistir com o diferente.
Ainda há, infelizmente, quem só veja valor nos corpos brancos, héteros, católicos, magros, clássicos, eruditos e muito bem-vestidos. De preferência, trancados dentro de um estádio, acessível apenas por meio de ingressos caríssimos para que possam aplaudir sem ter que questionar, nem por um segundo, seus valores intocados desde a época em que Athos, Porthos, Aramis e D´Artagnan se aventuravam por aí. Ou desde a época em que qualquer ameaça de subversão aos padrões estabelecidos pela elite estava fadada a apodrecer nos porões imundos da Bastilha.
Eu fecho com os franceses e o mundo que quero pra mim e para o próximo é do jeitinho que eles pintaram: colorido, criativo, diverso, inclusivo, democrático, ousado, questionador e amoroso.

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