Jogar sem plateia

As Olimpíadas de Tóquio já se tornaram históricas. Vencidas no primeiro round pela pandemia, chegam em 2021 cambaleantes, abatidas e mais silenciosas.
Jogar sem plateia não é a mesma coisa. É o grito da torcida que nos torna maiores, mais poderosos, mais confiantes. É essa vibração que nos faz saltar mais longe, correr mais rápido, driblar três adversários ou cravar uma série difícil.
Sem plateia a gente é só a gente, com nossas fraquezas e manias, nossa preguiça ou a nossa falta de censura. É sem plateia que a gente vai ao banheiro de porta aberta, anda sem roupa pela casa, dança da maneira mais louca, canta no chuveiro, vive sem medo do ridículo.
Sem plateia a meia pode estar furada, o cabelo pode estar bagunçado, a louça pode estar suja e a casa bagunçada.
Sem plateia falamos a verdade, assistimos aos piores filmes, testamos a maquiagem do tutorial, deixamos nosso corpo livre para se expressar em alto e bom som.
Nos despimos dos crachás, dos títulos, dos filtros e das poses para sentar no chão e brincar com o cachorro, chorar na comédia romântica, cutucar o nariz, discutir com a TV.
Só que sem plateia também não tem festa. Não tem barulho. Não tem as cores e as bandeiras para lembrarem que, naquele momento, é você diante do mundo inteiro.
Não dá pra sentir a emoção de quem, no meio de tanta tristeza, reserva um tempo para comemorar a vitória de alguém que nem conhece.
Pra sentir o friozinho na barriga antes da ginasta começar seu solo. Pra se emocionar com Rebeca Andrade e o funk do nosso Baile de Favela, que foi parar lá no Japão.
A plateia nos diz que não estamos sozinhos. Nos relembra como é bom se sentir amado. Como cada um é único e capaz de enfrentar o impensável.
Mas mesmo que a arquibancada esteja vazia, que o estádio esteja mudo e que a torcida tenha ficado em casa, o esporte sempre será vitorioso. Porque é ele que une as nações, dá um ippon nas diferenças e nos traz um pouco mais de humanidade.
Durante aqueles minutos ou horas, estamos do mesmo lado, focados no mesmo objetivo e confiantes de que, de alguma forma, somos todos invencíveis.

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