Eu odeio acordar cedo. Odeio muito. Porém, hoje, em plena segunda-feira, apesar de ser sete da madrugada quando o alarme tocou, respirei fundo e “ainda assim, me levantei” (perdoe-me, Maya Angelou, por parafraseá-la de maneira tão infame).
Só mesmo duas gigantes como Rebeca Andrade e Simone Biles poderiam conseguir tal feito: era dia da grande final na trave e eu não poderia perder por nada.
Medalha de ouro para mim. Para mim e para a Italiana Alice D´Amato, que subiu ao pódio sem a companhia da brasileira e da americana.
A trave, esta manhã, também parece não ter acordado de bom humor: derrubou até Simone Biles. Rebeca não caiu, mas também não medalhou. Uma polêmica nota de execução, que despontuou a falta de conexão de movimentos da brasileira, tirou a medalha de bronze do Brasil. Mas o que era nosso tava guardado.
Faltava pouco para dez da manhã quando a disputa no solo começou. Rebeca, a segunda a se apresentar, fez uma sequência linda e quase sem erros. Mas não dava para relaxar: ainda tinha muita prova pela frente e, principalmente, ainda tinha a Biles.
Já mais desperta depois de alguns cafés, eu agora dividia a minha atenção entre a tela da TV e a do computador. Afinal, os boletos não param de chegar em duplos e até triplos mortais carpados por aqui.
Da arena Bercy da rua Rodrigues Alves, em Presidente Venceslau, eu, Giselda (minha amiga e diarista) e Zé Maria (meu cachorro) acompanhávamos, apreensivos, cada apresentação. Biles fez seu solo sem quedas, mas também sem cravar. No entanto, como suas notas de partida são sempre um absurdo, eu ainda achava que os passos a mais nas aterrissagens não interfeririam no resultado.
Só que o que era nosso tava guardado mesmo. No caso, uma medalha de ouro para desbancar a maior lenda viva da ginástica de todos os tempos.
Desculpe, Simone, você é incrível e não vou negar que te amo, mas essa segunda de manhã era nossa, da Rebeca, desse Brasil que a gente ama apesar de ter que segurar “essa barra que é gostar de você”.
Dos campeões olímpicos de meme, que descem até o chão no baile de favela pra colocar comida na mesa. Do molho da raça negra, da bunda empinada da Flavinha em um Cancan à brasileira. De quem sobe na trave até de olho roxo. E não perde o rebolado e a simpatia nem quando cai de cara no solo em dia de final.
Hoje era dia de pódio no país do brasileirinho da primeira mulher negra do mundo a ganhar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística. Dia da “dos Santos, dos “Hypólitos, da Barbosa, da “Soares”, da “Leal”, da “Souza” e da “Andrade”. Dia de quem passou raspando no sarrafo, de quem bateu na trave, rolou no tatame, perdeu a luta, ganhou na repescagem.
Dia de provar que Simone Biles é, sem dúvida, um fenômeno, uma atleta fora da curva, praticamente um ET. Mas os brasileiros, em especial essa brasileira, esses sim, merecem ser estudados.
Compartilhar:
Andréa Martins
Andréa Martins ataca de publicitária, já foi escalada como roteirista e recentemente deixou o time dos paulistanos para jogar em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Em 2021, conquistou o título de escritora com o lançamento de seu primeiro livro “Uma cadeira na varanda – Crônicas e memórias do interior”. Já se considera veterana neste projeto, tendo entrado em campo no Crônicas da Copa do mundial masculino de 2018 e feminino de 2019, no Crônicas Olímpicas de 2021, Crônicas da Copa mundial masculino 2022 e feminino 2023. Com a convocação para a edição do Crônicas Olímpicas 2024, já está preparada para gritar “É Hexaaaaa!”.
Todas as crônicas
Curta nossa página no Facebook e acompanhe as crônicas mais recentes.
Crônicas Recentes.
Caio Junqueira Maciel
08/09/2024
José Guilherme Vereza
06/09/2024
Joel Silva
05/09/2024
Caio Junqueira Maciel
05/09/2024
Borny Cristiano So
03/09/2024
Caio Junqueira Maciel
03/09/2024
Caio Junqueira Maciel
02/09/2024
Daniella Cortella
31/08/2024
Fátima Gilioli
29/08/2024
Toninho Lima
29/08/2024
Alexandre Brandão
29/08/2024