Falo em olhar antigo na esperança de que ninguém o chame de antiquado. Sei do risco, o mundo está – talvez como sempre esteve, a não ser pela velocidade de hoje – mudando, o que antes eram favas contadas, agora não passa de uma possibilidade.
Comecei a crônica com uma frase que bem poderia ser a de conclusão, mas é preciso deixar os leitores avisados, o cronista aqui é um sessentão que busca estar antenado com a vida, tem filhos que lhe dão umas chacoalhadas, mas, enfim, é um velho senhor que carrega seu olhar de mundo. Olhar também velho, não duvido.
A segunda frase, vejam bem, se não tem a intenção lacradora da primeira, não acrescenta nada de útil. Enfim, escrevo uma crônica chinfrim. Peço perdão e parto para o quarto parágrafo como o atleta – feito a Fadinha ao ganhar sua medalha de bronze – que vai para o tudo ou nada em sua última volta, manobra, round.
Ao assistir provas como o skate, a canoagem slalom (Ana Sátila, pega na mão da Iara e vai), o ciclismo em suas várias formas, o surf em ondas de consequência, o rúgbi, as lutas, mesmo a ginástica artística, enfim, esses esportes cujo risco de lesão não é pequeno, penso sempre no sofrimento das mães dos atletas. Sim, das mães.
As famílias são outras, bem sei. Conheço uma em que o trabalho doméstico é do marido. Ele cuida da cozinha, dos filhos, do contato com as pessoas que trabalham para a família, faz o dever com as crianças, enquanto a mulher rala numa vara da justiça. Estão aí os casais homoafetivos, com dois pais ou duas mães. Os primeiros, se têm filhos atletas, talvez passem ao largo das minhas preocupações. Não ao largo, reconheço que sofram também, mas, ah!, meu Deus, ninguém sofre como as mães, mesmo aquela que, por força das circunstâncias, está mais distante do cotidiano da molecada. E, numa família de duas mães, o sofrimento é duplicado ou talvez, na matemática materna, n-plicado.
Enquanto nosso brasileiro da BMX, Gustavo Bala Loka, fazia suas manobras sobre a bicicleta – e não ganhava medalha alguma, infelizmente –, o narrador lembrava que ele começou quando o pai lhe deu uma magrela comprada num ferro velho. Não foi a mãe, foi o pai. A mãe, precavida, aproveitando a saída dos “meninos”, deve ter corrido até a farmácia para estocar gases, esparadrapo, atadura, mercúrio cromo, e até a igreja, o terreiro, o centro para buscar uma proteção extra.
Saímos de dentro de uma mãe, e elas carregam a responsabilidade de cuidarem de nós – primeiro com o peito, depois com a mão – enquanto estiverem vivas. No caso das mães adotivas, se não há o elo biológico, há a sororidade. Penso assim desse modo que talvez não tenha razão nenhuma e seja apenas a “verdade” dos meus dias. Pode ser, mas insisto, até que me provem o contrário, ninguém sofre tanto quanto as mães.