Numa pesquisa rápida, descobri que já no século XVIII se disputavam provas de remo. Ou seja, em algum momento o que era meio de transporte para uns e trabalho para outros se transformou em brincadeira, um pega nas águas. O Tamisa foi palco das primeiras competições organizadas, promovida por estudantes de Oxford e Cambridge.
Ou seja, com o que uns trabalhavam, os bem-nascidos inventaram de se divertir. A universidade sempre produziu conhecimento, sem nunca deixar de proporcionar divertimento aos alunos. Estamos onde estamos graças a esses dois lados. Se a coisa não está boa, arrisco a dizer que se deve em grande parte à apropriação do conhecimento produzido e não à sua qualidade ou à farra dos universitários. Mas não é sobre isso minha conversa, só quis pontuar que os estudantes ingleses inventaram o remo como esporte, que depois tornou-se olímpico.
A gente vê aquela gente forte – exigência fundamental, pois o esforço é grande – e tem impressão de que deslizam sem atrito sobre o rio ou a lagoa. É bonito, e como é bonito, repito, até insisto, mas peço que não confundam, como eu já confundi, remo com canoagem. São duas coisas diferentes. Isaquias Queiroz é o maior atleta da canoagem no Brasil e já faturou quatro medalhas – três só na competição de 2016, no Rio de Janeiro – o que o coloca no topo entre nossos medalhistas. No remo, até 2020, conseguimos, no máximo, chegar à prova final, mas asseguro que de Paris traremos medalhas.
De onde vem meu otimismo? O Brasil levará apenas dois atletas do esporte, Lucas Verthein e Beatriz Tavares. Ambos do Botafogo, e o detalhe está aí, no clube que defendem, quase sempre nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas – que, aliás, diga-se de passagem, vem passando por um projeto que tem recuperado a vegetação e, com isso, atraído de volta a fauna original, que agora já até se reproduz ali.
Longe de mim estar com papo de torcedor, nada disso. É evidência. O Botafogo tem tradição de ceder atletas de gabarito às seleções, basta pensar em Garricha, Nilton Santos, Didi, Zagalo, Amarildo, Gérson, Paulo César Caju, Jairzinho, Roberto. Exagerei e listei apenas os jogadores campeões mundiais de futebol, peço perdão. Mas vocês podem pesquisar, desde o início do século XX, o Botafogo mandou mais de setenta atletas para as olimpíadas (o falecido Bebeto de Freitas, técnico de vôlei e presidente do clube, foi um deles), com destaque para o Polo Aquático (dezesseis). Estes dados estão no blog Data Fogo, em pesquisa de Cláudio Falcão.
Se esses atletas ganharam medalhas? Não nos agarremos ao passado, é hora de projetar o futuro. Olhos em Paris. Nos últimos anos, o Botafogo ganhou os campeonatos estaduais de remo entre 2013 e 2018 e o de 2022. É, portanto, uma força e, com um desempenho desses, não tem como os adversários não tremerem.