O cronista transparente

Quando a grande polêmica sobre nossos atletas olímpicos é o uniforme que usarão na abertura e no encerramento dos jogos de Paris, é sinal de que está tudo bem do ponto de vista esportivo, o que me deixa mais tranquilo. Quer dizer, me deixa tranquilo, eu não estava menos e fiquei mais tranquilo. Para dizer a verdade, eu estava indiferente, nem querendo me envolver muito.

A razão dessa indiferença, confesso, como se estivesse diante do padre Luís na minha primeira comunhão, é a inveja. Morro de inveja dessa turma que irá passear por Paris. Por Paris, a cidade que é uma festa. Ah, Hemingway, não me convidaram pra festa.

Você, torcedor crédulo, não me condene por achar que a coisa estará mais para um convescote do que para uma competição. Ouça meus argumentos. A quadra de vôlei, por exemplo, está montada aos pés da Eiffel. Ora, jogar num lugar desses só pode ser visto como turismo. E a Maratona? Como nomear a corrida pelos mais de quarenta quilômetros tendo aqui a Ponte Neuf, ali Notre Dame?

Como se não bastasse, o judoca ligeiro, meio-leve e leve, os altões do basquete, os esguios corredores, os nadadores de ombros largos, a Rebeca, a Fadinha, essa gente toda desfrutará de Paris com tudo pago.

Tudo pago. É por isso que defendo a porrinha nos jogos criados na Grécia. Eu estaria em Paris, vestindo Riachuelo ou Armani. Estaria, sim. Preste atenção no que vou contar. Uma vez jogava, num bar no Jardim Botânico, contra a namorada e um amigo. Dava uma sova nos dois de dar pena. Quando fui ao banheiro, os dois combinaram um código para que um soubesse quantos palitos o outro tinha na mão. O que aconteceu ao retomarmos o jogo? Continuei ganhando. Sou fera, Paris merecia ver meu desempenho, que se torna espetacular na medida em que mando descer cerveja como se pedisse água no deserto. Torresmo? Aceito, mas sequinho, por favor.

Como disse, se a polêmica é a roupa, o lado esportivo está nos trinques. Ótimo. Portanto, não será esse sentimento quase inofensivo, a inveja, a minha, coitada, que atrapalhará o bom desempenho desses… desses… desses sortudos. Pra cima deles, Brasil.

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