Não é engraçado que nosso novo esporte olímpico tenha vindo das ruas? Eu acho emblemático. E um esporte que foi proibido nas ruas por conta do conservadorismo? Acho interessante. E que tenha como uma das principais expressões uma menina, do Maranhão? Acho significativo. Não sei se eu, cheia de querer fazer ligações conceituais esteja me perdendo em símbolos, mas para mim, é tão claro como água. Deixem as ruas mostrar seu valor, deixem o conservadorismo de lado, deixem as meninas do Maranhão em paz para elas brilharem em sua infância e construírem uma juventude. E pelamordedeus, deixem de ser conservadores. Acelerem nesse quesito. Sei que até mesmo alguns atletas são, mas vamos lá, vai, vamos passar de fase, vamos parar de querer conservar o absurdo, o decaído, o decrépito. Se não quiser, ok, continua firme nos seus conceitos, mas então não comemora a prata da casa. Comemora outra coisa. Deixa a menina do Maranhão em paz. E para os que odeiam os jovens skatistas passando pela Paulista e olham por cima deles julgando-os culpados nem sei do quê, parem de elogiar a “beleza da abertura das Olimpíadas”, aquela que mostra a paz entre os homens e as Nações. O esporte dá fôlego para as esperanças. Somos tentados a nos encantar pelo metal reluzente no pódio. Mas não vemos as competições diárias, tudo que é feito nos bastidores para esses rapazes, e moças, e meninas irem para os jogos. Não há incentivo para o esporte, é tudo muito sofrido, como uma maratona de Hércules. Os esportistas são heróis, mesmo aqueles que, esquecidos disso, falam que um Deus lá de fora, distante, é quem os fez vencer. Então ei, vocês de Brasília. Apenas deixem de comemorar! É muito irritante. Os judocas foram para Tokyo graças a…. outros judocas, os velejadores conseguem competir graças aos seus próprios investimentos (como em muitos esportes). Os técnicos andam cansados, doentes, ralando e sempre caminhando no fio da navalha (“Será que haverá cortes? Demissões?”). As maravilhosas da ginástica artística passam por poucas e boas para mostrar a Favela para o mundo. À Deusa Daiane até hoje não é dado o ouro puro e as loas que seu talento merece. Ei, vocês que estão fotografando e postando suas míseras conquistas, que nada têm a ver com meritocracia, mas, sim, com privilégios, por favor, tenham pudores ao comemorar.
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Adriana Calabró
Adriana Calabró é jornalista, escritora e roteirista. Foi premiada nas áreas de comunicação (Best of Bates International, Clube de Criação, Festival de Nova York) e literatura (Selo Puc/Unesco Melhores livros do ano, ProAc – bolsa de literatura, Prêmio Off-Flip, Prêmio João de Barro- 1º lugar, Prêmio Livre Opinião, Prêmio Paulo Leminski, Salão do Humor) e roteiro (Festival de Nanometragem). Idealizou e atua como facilitadora da Oficina de Escrita Palavra Criada (desde 2005). Na área de Letras, desenvolve pesquisa autoral sobre a Escrita e o Processo de Transformação. Lançou 8 livros de ficção, sendo um deles uma “Autobiografia póstuma em vida”. Na dramaturgia montou Trilogia do Fim, e no audiovisual já escreveu centenas de roteiros institucionais, publicitários, documentais e de ficção.
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