O meu irmão sabe tudo sobre esporte. Pergunta para ele sobre o ano que uma nova modalidade entrou nas Olimpíadas e ele sabe, pergunta quem foi tricampeão de vôlei, e quem era o líbero, e ele sabe. Futebol, então, é um caso a parte. Ele manja de todos os times, de todos os tempos. Sabe o número da camiseta, idade, número de gols, o nome completo do jogador e até o da mãe dele (caso o dito cujo esteja jogando mal). Pergunta para o brother dos esportes que ele nunca praticou, como surf e luta romana, que ele oferece, no mínimo, alguma curiosidade. Sobre as práticas esportivas de inverno, mesmo as bem esquisitas, como aquela que escorrega uma chaleira pelo gelo, ele vai saber também. Talvez não seja muito fã da ginástica artística com fita, mas ainda assim, vai comentar algo, seja do tipo de piso onde as saltitantes moçoilas se apresentam, seja de algum critério que o júri precisa observar. No passado, era irritante jogar Master (o antológico jogo de perguntas e respostas) com ele. Na seção esportes, ele gabaritava. E na de História também. Eu era melhor em Artes, mas ainda assim, sempre me distraía com alguma coisa. Ou esquecia. Ele, nunca. Mesmo com a televisão ligada no clássico de domingo, vinte e dois jogadores em campo, ele tinha um olho lá e outro cá. Estava focado em ganhar no jogo. Competitividade combina com esportes e isso tá no DNA do meu querido irmão. Foi o jogador dos sonhos dos times do colégio. Raçudo, craque, incansável. Ainda hoje é o parceiro ideal no tênis, também. Disciplinado, atento. Se precisar estar às seis da matina na quadra, ele dá um jeito. Eu? Nem tenho certeza que esse horário existe. Sabe de cor todos os tenistas campeões Olímpicos e também os de Roland Garros, de Wimbledon (e eu, só penso em viajar para todos esses lugares bacanas onde rolam os campeonatos. Já pensou? Tokyo? Ah!). Quanto à natação, tudo bem, ele faz quando pode, mas como não é para competir, só ficar batendo na borda de lá e de cá, não tem o mesmo gosto. Prefere assistir. E sabe tudo do Djan Madruga até o atual campeão (cujo nome não tenho a mínima ideia, mas vou me informar). Tenho a impressão que meu irmão é mais ígneo, a água não é seu ambiente. É vidrado na tocha olímpica, na efervescência do pódio, na explosão dos músculos dos 100 metros rasos. Não, espera, o que estou dizendo? Fair play seja feito. Tem o mar. Sim, meu irmão ama o mar. Ali, ele larga o dardo, a raquete, a bola, fica tudo jogado na areia, assim como são esquecidos os resultados da categoria Laser ou Star. Barco a vela, só lá no horizonte, vagando. Perto do mar, meu irmão esquece que tem televisão, smartphone, internet e nem liga que já estão chegando as Olimpíadas. Ali, ele volta a ser um atlante, um adorador dos ritos pagãos de força e resiliência. Ali, entra em uma embarcação e deixa no porto as suas origens guerreiras, marciais, para assumir seu lado argonauta. Permite-se avançar na imensidão e conquista a permissão do deus Ares para que Vênus embarque, para que Safo e suas poesias ocupem lugar, para que Adônis fale sobre beleza no convés. Diante do mistério e profundidade do Oceano, ele deixa de lado sua corrida de obstáculos, suas luvas de boxe, seus alteres de 100 quilos, e seus neurônios param de ficar batendo bola como naqueles jogos insanos de tênis de mesa. Junto do mar, meu irmão dá um salto nas alturas. Torna-se a sua própria leveza e se lembra que a vida está mais para um jogo de frescobol, para uma pelada na praia, encara tudo como o sorveteiro simpático que faz uma verdadeira maratona de conversas antes do sol se por. Perto do mar, “O Mar”, meu irmão, e todos nós, temos um baita espírito esportivo.
Imagem: Dois irmãos – Paula Marina