Durante dois anos, minha filha frequentou uma escola secundária pública em Lisboa, e ao final do último período conquistou uma média final mais do que suficiente para entrar na faculdade que escolheu. Um orgulho, uma imodéstia de elevar o queixo de um pai que bate pernas pelas ruas de Lisboa. A classificação final só não foi melhor porque suas notas em Educação Física foram abaixo de todas as matérias que exigem lógica, criatividade, conhecimento e muita concentração no estudo. O fiasco na Educação Física não credito a ela, que veio do Brasil acostumada à academia, treinos e jogos de vôlei. O problema foi o altíssimo nível de exigência da disciplina “ginástica” comparável a uma Geometria Descritiva, Inglês e Língua Portuguesa, quando, olha o imodesto de novo, ela nadou de braçadas. Peço desculpas ao espaço que me foi concedido para abordar uma aparente questão pessoal. Mas não é pessoal. É coletiva e sintomática de uma distorção. Em Portugal é assim. Paradoxalmente assim. Um nível elevado de Educação Física na escolas como se fosse uma potência olímpica. Desde cedo se praticam esportes, corre-se, nada-se, joga-se. As escolas são polos de atletas. As academias, ditas ginásios, estão apinhadas. Há ciclovias em todo canto, gente de todas as idades fazendo exercícios nos aparelhos das praças, grupos de maratonistas aos bandos organizados, competições escolares de diversas modalidades. Há publicidade de patrocinadores e apoiadores, clamores à torcida portuguesa aos Jogos, inclusive, corretamente, aos Paraolímpicos, tudo sugere uma chuva de medalhas e orgulho nacional. Com todo respeito à terra que me acolheu e que me sinto resolvido e feliz na condição de imigrante, sinto que é aí que habita o disparate. Tanta exigência nas escolas – que beira às práticas militares -, tanta mobilização popular, tantos atletas pelas ruas, tanta atmosfera competitiva, para 4 medalhas nos Jogos e 6 nos Paraolímpicos, até agora. Queiram ou não queiram é uma medida relevante de uma nação portentosa. Lamento muito. Torço para que essa misteriosa equação injusta se resolva. Portugal merece mais podiuns do que as escolas e as ruas sonham.
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				José Guilherme Vereza
						José Guilherme Vereza é publicitário, redator, diretor de criação, professor, roterista e escritor de contos, romances, crônicas, o que as teclas mandarem. Tem diploma de Molhos de Massas e Risotos, pretensão para uso estritamente doméstico. Mora em Lisboa desde janeiro de 2022, quando ventos das letras cá sopram um prazer imenso em escrever de tudo, inventar coisas e gentes, dia sim, dia sim. Crônicas Olímpicas é um desses prazeres.					
				
									
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