Ouro em consumo

As Olimpíadas foram criadas para atletas amadores. A beleza dos Jogos é a união de povos em uma competição limpa, com fairplay, sem violência. Olimpíada não é guerra por medalhas.
No entanto, o que se vê em transmissões de TV, e outras, é o oposto: um ufanismo barato, beirando o jeca.

A patriotada televisiva dá o tom em Paris. Tudo bem, ânimo e amor pelo país é justo e desejável. Porém, se contorcer por medalhas, e por pódio, numa Olimpíada, não. Manda o bom senso que o maisquerer seja pelo Evento, não pelas nações envolvidas.

A razão, nas entrelinhas, de tanto som e fúria, nós sabemos. É preciso mover a roda do consumo e o pedal são os patrocinadores. Se a transmissão optar por ser olímpica, o público não encontrará tanto drama. E, sem drama, sem grana. Desfigure-se, portanto, os Jogos.

E assim, assistimos à metamorfose da pureza olímpica em um espetáculo de comércio desenfreado. A nobreza da competição justa se perde em meio a narrativas fabricadas. Em vez de celebrarmos o espírito humano e a excelência atlética, somos envolvidos em uma batalha moderna de algoritmos, cifras e estatísticas vazias.

Talvez, se Hermes estivesse entre nós hoje, não só estrelaria comerciais de apostas BET, mas também endossaria um energético, garantindo que ninguém perca um segundo sequer desse espetáculo ilusionista. Afinal, no panteão atual, quem reina supremo é o deus do marketing.

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