O vencedor

Tenho profundos respeito e compaixão por perdedores.
Não os negligentes, indiferentes, preguiçosos, conformados, entregues aos desígnios do destino. Mas aos que francamente choram suas perdas.
Guilherme Costa dedicou seus preciosos tempos de infância, adolescência e quase adultice para conquistar um podium, pendurar no peito uma medalhinha que fosse, bronze estava bom, merecidamente bom pela dedicação de uma vida inteira, ainda que tenra, mas intensa de nobreza.
E foi essa nobreza que o fez cair em prantos diante das câmeras de televisão, ainda na piscina, e depois numa corajosa entrevista, quando não escondeu sua dor.
Chorou bonito. Como uma criança que vê a bola de sorvete cair no chão. Ou um adulto acometido de uma desilusão amorosa. Ou qualquer pessoa que sente qualquer dor desmedida.
Guilherme não chorou no cantinho ou agarrado a um travesseiro.
Guilherme chorou de pé e peito aberto. Não apelou ao ufanismo nem se desculpou a ninguém por ter frustrado a expectativa nacional de colecionar medalhas olímpicas. Não era o Brasil que queria a medalha. Era ele, simplesmente ele, honestamente ele.
Seu pranto foi sincero, compatível com sua idade e pureza, tão absoluto, tão incapaz de perceber o acolhimento de outros atletas e suas palavras igualmente sinceras de que Paris era sua primeira Olimpíada e que as lágrimas só iriam se misturar às aguas das piscinas que sempre estarão por muito tempo ainda a desafiar suas braçadas.
Menino, tive vontade de pular para dentro da TV e abraçá-lo como um filho acometido por uma imensa frustração. Só abraçar, sem palavra alguma. Talvez agradecesse sua coragem de chorar na frente do mundo inteiro, num exemplo inconteste de brio e humanismo.
Isso mesmo, Guilherme: chorar como você chorou é para vencedores.

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