Na estreia, uma ode às guardiãs das redes brasileiras

Falemos a verdade, sublime e complexa: Pierre de Coubertin deve estar se revirando no túmulo. Idealizador dos Jogos da Era Moderna ele dizia que esporte não era coisa de mulher, vejam vocês, que nós deveríamos lindas e graciosamente apenas aplaudir, ali das arquibancadas, os homens com seus grandes feitos heroicos, citius, altius e fortius.

Ah, doce ironia! Eis que a história traz, pela primeira vez, as Olimpíadas da paridade, da igualdade. Nos Jogos Olímpicos de 2024 vemos que, em alguns casos, senhoras e senhores, não é uma questão de número, mas de talento, garra e, ousemos dizer, superioridade! É o Brasil que não nos deixa mentir, mandando mais mulheres que homens para a batalha olímpica em solo parisiense.

Nesta jornada inaugural de hoje, as brasileiras do handebol e do futebol fizeram suas estreias triufantes, destaque para as nossas guardiãs das redes.

No gramado olímpico do futebol, Lorena impediu que a bola da Nigéria encontrasse o fundo das redes. Fez sua parte, uma excelente atuação, uma declaração de presença que não apenas segurou o ímpeto nigeriano, como também acendeu a chama da confiança em toda a equipe brasileira.

Mas eis que a história tem um senso de humor mais afiado do que o gol anulado da Marta.

Na arena do handebol testemunhamos um verdadeiro espetáculo de defesas. Gabi Moreschi, nossa guardiã, não só defendeu o gol – ela o consagrou! Quartoze vezes, senhoras e senhores, quatorze vezes ela se ergueu como um muro intransponível no triunfo de 29 a 18 sobre a Espanha. Quem diria que “Las guerreras”, favoritas, ficariam cara a cara com este touro brasileiro de saias, e eu vos digo mais: que brilho! Que brilho!

Que estreia! Que sinfonia de defesas! Que poema épico escrito com as mãos de nossas guardiãs! Cada defesa, cada salto, cada gesto era um verso nesta ode à superação e à excelência feminina no esporte.

E assim encerramos esta ode às nossas guardiãs das redes brasileiras.

Quem diria, hein, Pierre de Coubertin? As mulheres desceram das arquibancadas e conquistaram o campo, a quadra, a piscina, o tatame. Citius, altius, fortius? Ah, meu ilustre Barão, permita-nos acrescentar: et femina!

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