Nem todo lance é digno de comemoração. E nem adianta discutir, tem bola que não entra. Digo da bola fora provocada pelos meninos do futebol que subiram ao pódio em Tóquio 2020 gritando um dos protestos mais nada a ver da história dos Jogos Olímpicos. Não, nada como Jesse Owens versus Hitler na Berlim de 1936, nada como Tommie Smith e John Carlos na luta contra o racismo na Cidade do México em 1968, afinal, quem não se lembra dos corredores americanos levantando os braços para o alto, com os punhos cerrados?
O fato é que, enquanto muitos atletas aproveitam a visibilidade dos Jogos Olímpicos para escancarar a ausência de direitos humanos, ou para se refugiarem, ou para lutarem por igualdade, ou para dizerem da fome, para serem ouvidos por seus governantes, para exporem ao mundo uma situação de miséria causada pela desigualdade social, pela péssima distribuição do capital, os meninos do futebol fizeram protesto a favor de uma marca esportiva, a favor de uma empresa. De-uma-empresa. De-um-pa-tro-ci-na-dor. Mas, na verdade, estamos falando da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e de suas diferenças com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). E do dinheiro que rege tudo isso. Estamos falando dos cartolas do futebol. Estamos falando da disputa de poder entre o Comitê Olímpico Internacional e a FIFA (Federação Internacional de Futebol Amador).
Em Tóquio 2020 estes nosso jovens jogadores, estes que sonham com os gramados europeus, subiram ao pódio com seus blusões amarrados nas cinturas, escondendo uma entidade, mostrando outra. Acho que, de tão jovens, eles apenas obedeceram. E foi aí que nossos jovens jogadores se tornaram os principais atores de uma novela que começou lá em 1904, com o surgimento da FIFA, e que se estabeleceu em 1908, nos Jogos de Londres, quando o futebol foi integrado às olimpíadas.
Em resumo: não adianta se você é o atleta mais come bola do mundo, tampouco não importa que tipo de atleta você é, porque dependendo de como for, você pode ser, mesmo, é um atleta bola fora. Mais bola fora do que maria vai com as outras.