Antes que me crucifiquem por assassinato da língua portuguesa, esclareço: tomo de empréstimo a fala de uma personagem do filme Meu nome não é Johnny, Mário Lima (2008). A ideia veio do nadador Bruno Fratus que a repetiu, com muito humor, para não se abater diante dos que citavam os seus 1,87m de altura como dificultador para bons resultados olímpicos como os alcançados pelos gigantes velocistas Florent Manaudou (1,99m), Nathan Adrian (1,98m) e Michael Andrew (1,96m).
Pois bem, é a vivacidade da língua e de Bruno que me inspiram.
No filme e nas piscinas, a primeira sentença se equivale em sentido. Tanto os perigosos inimigos nos corredores de uma prisão quanto os adversários nas raias dos torneios apresentam porte físico avantajado. A segunda teve por parte de Bruno uma alteração semântica para oferecer à palavra “ruim” uma fuga ao uso de dicionário. Em uma licença poética, o termo passa a designar aquilo que resiste. Como no dito popular: “vaso ruim não quebra”.
Alguns anos antes de Bruno nascer, outro nadador respondia ironicamente a mesma questão, após perder a medalha de ouro para o canadense Alex Baumann que tinha por volta de 20cm a mais de altura. Visivelmente irritado por ter ficado com a prata na prova em que era favorito, Ricardo Prado (1,68m) perguntava aos jornalistas se devia entrar na piscina de salto alto.
Das águas para a areia, novamente o físico dos atletas entra em pauta. Tendo como parceira Ana Patricia (1,94m), a inteligente e habilidosa Rebecca Silva (1,75m) reconhece que o vôlei “é sofrido para quem é pequena”. A dupla foi eliminada nas quartas de final. Uma partida em que a saúde de Ana sucumbiu ao calor, mas a visão estratégica de Rebecca garantiu um belo espetáculo.
Voltando à língua e ao significado das palavras. Atleta vem do grego (Athletes) que significa “competidor”. O seu radical está associado a athlos (disputa) e a athlon (prêmio), havendo quem defenda que tenha origem em aethos (esforço). Palavras que sugerem o corpo como instrumento. Ainda que a disputa exija objetos, elementos da natureza e até animais como o cavalo, são os corpos que marcam a prática esportiva.
Pesquisas revelam que há uma tendência universal para o aumento da estatura das pessoas por conta da melhoria da qualidade de vida observada no último século. A natação e o vôlei abraçam essa realidade adequando biotipos/modalidades e consagrando como campeões os que melhor aliam força e habilidade. Nas piscinas a amplitude das braçadas cria seus mitos entre velocistas. Nas quadras o impulso é vertical oferecendo vantagens para o tamanho do competidor e dos saltos.
Seria isso impedimento para corpos não ajustados ao exigente padrão dos nossos dias?
Bruno e Rebecca apostam na persistência, no trabalho árduo e na alegria. Lembram ser a mente, ainda que não medida em centímetros, parte do corpo. Esforço. Disputa. Prêmio? Rebecca sai vencedora sem metal, pois seu nome será associado ao que reluziu sob o sol do verão japonês. Bruno, com um beijo, mostrou ao mundo sua felicidade bronzeada. Não quebraram.