Desde a mais tenra idade (adoro clichês redundantes numa terça-feira de manhã para espantar as teias de aranha da minha imaginação preguiçosa pós Covid), eu adoro esportes.
Leitor assíduo acompanhei sempre as muitas edições dos Jogos Olímpicos, torcendo, é claro, pelo sucesso dos atletas brasileiros. Com mais frustrações que alegrias, confesso. Quem não se lembra do padre que impediu a fantástica vitória e consequente medalha de ouro do Vanderlei Cordeiro de Lima, na maratona de Atenas? O bronze duramente conquistado foi uma consolação amarga, típica das alegrias que temos tido como país nos últimos….500 anos!
A própria realização dos jogos em solo pátrio no distante ano de 2016, cercado por denúncias de corrupção e superfaturamento (outra constante dos tristes trópicos) foi meio … broxante, se me permitem o termo espúrio. Esperávamos, como fãs, uma enxurrada de medalhas, de preferência douradas, e a colheita foi modesta.
Mas houve uma edição dos jogos que quase não pude acompanhar pela TV, e que me deixou doces memórias: 1976, Montreal, Canadá. E um simples nome vem à tona relacionado àquela edição das Olimpíadas: Nádia Comaneci! Ah, Nádia! Como aquela adolescente bonitinha, magrinha e muito ágil mexeu com a imaginação de um planeta recém interligado pelos satélites que mostravam os eventos praticamente em tempo real. Um mundo que não mais vai voltar (ainda bem! : guerra fria, preconceitos mil, coisas que nem gosto de me recordar), assistiu perplexo aquela garota conquistar os primeiros conceitos perfeitos para os exercícios de ginástica olímpica, obtendo, com isso, as notas 10 inéditas até então. Foi um feito e tanto!
Além da habilidade técnica, a romena tinha uma graça e um carisma que a fez ser catapultada para as capas dos jornais e revistas do mundo todo, além dos noticiários televisivos, claro. Se isso tivesse acontecido nos dias de hoje, com as redes sociais e tal, ela teria certamente angariado milhões de seguidores em sua inevitável conta do Instagram e quejandos. (E não é que eu fui, curioso como sempre, olhar no Instagram e tem um monte de perfis dedicados a ela? – sinal dos tempos, a reciclagem constante das coisas ad infinitum!)
Mas, pergunta-me o arguto leitor (se é que você, meu caro, chegou até aqui!), o que tem a ver a Nádia Comaneci com a edição atual dos Jogos Olímpicos em Tóquio? Provavelmente, não muito; mas é a recordação mais remota que tenho dos jogos. Assisti sim, aos jogos de Munique em 1972, e, garoto de 12 anos à época, não compreendi então a dimensão dos atentados terroristas contra os atletas israelenses que ofuscaram o brilho esportivo daqueles jogos, apesar das muitas medalhas de Mark Spitz. Bom, o rapaz levou para casa sete medalhas de ouro. Não dá para esquecer, não é? Mas em 1976 eu já estava mais velho e maduro e aguardava com ansiedade as muitas possíveis medalhas brasileiras que não vieram (só duas, magrinhas, de bronze). A partir de 1976 eu pude dimensionar num modo muito pessoal e particular a importância esportiva e política dos jogos. Em Moscou, 1980, eu estava recém-instalado em Londres, e meu inglês era muito precário para entender tudo o que acontecia do lado de lá da Cortina de Ferro, além de não possuir um aparelho de TV. O boicote de alguns países ocidentais capitaneado (ah…palavrinha que vem adquirindo conotação pejorativa) pelos Estados Unidos foi o fato mais marcante dessa edição dos jogos.
Portanto, para encurtar essa crônica e transformá-la numa prova de meio fundo e não na maratona que ela está ameaçando se tornar, vou encerrar com minha homenagem a Nádia Comaneci. Fui um dos muitos convertidos à sua graça e talento naquele verão no hemisfério norte de 1976. Nas próximas crônicas (se eu não for sumariamente expulso do site por deficiência técnica ou ippon literário) pretendo discorrer um pouco mais sobre o passado e estarei atento às possíveis novas Nádias. Quiçá uma ou um brasileirinho para a gente mitigar o momento difícil que estamos vivendo!
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Cezar Fittipaldi
Escritor diletante, ourinhense de nascimento e coração, professor de escola pública, ex-empresário, eterno sobrevivente nesse país de desafios, encara a vida como uma gigantesca obra literária em tempo real. Seu esporte favorito é o automobilismo, gosta de basquete, atletismo, natação e o futebol já foi mais apreciado. Já assistiu a numerosas copas do mundo, todas pela televisão, e torce comedidamente pelo time do Brasil, sabendo separar ufanismo e nacionalismo de amor ao esporte.
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